Para qualquer assunto relacionado com os combatentes podem contactar-me através do e.mail «maneldarita44@gmail.com»

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

À laia de balanço!

Fim de ano é altura de balanços e eu quero aproveitar esta data para fazer um breve comentário a respeito do que foram estes primeiros 7 meses de vida do Blog dos Combatentes de Macieira.
Para começar direi que um blog não é nada sem os seus seguidores e comentadores. O conteúdo do blog tem que ter atractivos para quem o visita e só isso fará com que se interessem por ele e o queiram seguir. Quanto aos comentários passa-se quase a mesma coisa, ou os leitores gostam do que lêem e isso leva-os a deixar um elogio, ou viram a página sem nada dizer por nada de real valor terem encontrado no seu conteúdo.
Como se pode ver na coluna aqui ao lado, os seguidores são em número irrisório e os comentários (em 7 meses de actividade) contam-se pelos dedos das mãos. Não sei se deva atribuir isso ao tema do blog ou à minha falta de habilidade para agradar aos leitores. Tenho usado o Facebook para levar ao conhecimento de mais pessoas os artigos publicados e se o não tivesse feito o resultado seria ainda muito pior. Sinceramente não sei que mais possa fazer para despertar o interesse dos jovens macieirenses que navegam pela internet.
Desde o início contava com o alheamento dos ex-combatentes, pois sei que muito raros são aqueles que se entendem com um computador. Mas muito sinceramente contava despertar o interesse dos seus filhos e netos, coisa que tenho que reconhecer não aconteceu.
Chegando a esta conclusão o mais acertado da minha parte seria abandonar a ideia e entregar-me a outro qualquer projecto. À boca de um novo ano que amanhã começa, talvez fosse essa a decisão mais acertada que eu deveria tomar, mas custa-me muito desistir de qualquer coisa em que me meto. Estou, por isso, como o tolo no meio da ponte sem saber para que lado seguir. Uma palavra de ânimo da vossa parte seria bem vinda para me fazer prosseguir.
Para todos os visitantes eu desejo um Ano Novo cheio de prosperidades!

sábado, 28 de dezembro de 2013

A Promessa!


Há muitos, muitos anos, apareceu por Macieira uma senhora que procurava um homem capaz de cumprir uma promessa feita pelo seu marido que tinha morrido sem a conseguir cumprir. Oferecia uma pequena fortuna, umas dezenas de contos de reis, ao voluntário que se apresentasse pronto para a tarefa, mas nem assim houve quem se oferecesse. Pediu ajuda ao abade da freguesia, depois de se ter confessado e contado a sua história de fio a pavio, para que ele intercedesse junto dos seus paroquianos explicando-lhes que nada de mal poderia acontecer a quem concordasse em fazer aquilo que ela pedia. Nem assim, nada, não houve um macieirense que desse um passo em frente e se aventurasse a receber a choruda recompensa oferecida pela viúva. Soube-se depois que ela já tinha tentado a sua sorte noutras freguesias do concelho, mas sempre sem sucesso.
Mas afinal de que se tratava? O que teria que fazer o interessado e que assusatva todos os possíveis candidatos?
Ora vamos lá repetir a história que a velha senhora contava e satisfazer a vossa curiosidade. Segundo ela o seu marido sofrera de uma grave doença e desesperado por melhoras que tardavam em aparecer fez uma promessa a S.Tiago de Compostela para que ele o salvasse. A promessa consistia em viajar, desde a freguesia em que morava até à Catedral de S.Tiago, dentro de um caixão, num carro puxado por cavalos. Na freguesia que estivessem a atravessar ao sol-pôr, em cada dia de viagem, deviam pernoitar na igreja paroquial, com o caixão aberto e o "morto/vivo" lá dentro em exposição como se de um verdadeiro cadáver se tratasse. Aconteceu que, de facto, se curou, mas acabou por morrer num acidente antes de ter podido cumprir a promessa feita ao santo.
Com a consciência pesada pelo segredo que carregava contou ao seu confessor a promessa feita pelo marido e o receio que tinha de ele não poder entrar no céu por causa do não cumprimento do que tinha prometido. O padre disse-lhe que, se acreditava que cumprindo a promessa do marido ele veria abrirem-se-lhe as portas do céu, o fizesse sem problemas, pois daí não viria mal ao mundo. Como penitência adicional disse-lhe que devia entregar uma esmola significativa ao abade de cada freguesia onde pernoitassem, contando-lhe a história da promessa feita a S.Tiago e pedindo para que rezasse para que o seu falecido tivesse direito à bem-aventurança na vida eterna.
A viagem até Compostela ia custar caro, mas esse não era o problema, pois o seu marido deixara-lhe uma boa fortuna ao morrer. Começou a preparar a viagem, tratando de arranjar o carro, os cavalos e um cocheiro para os conduzir e olhar por eles no período de descanso. Encomendou o esquife e mais os restantes apetrechos habitualmente usados nestas cerimónias. Mas quando chegou a altura de escolher o candidato a deitar-se dentro do caixão deparou-se com um grave problema, não havia nenhum candidato.
E foi isso que a levou a Macieira e a fez andar de porta em porta, pedindo por Deus e pelas almas do purgatório, que aceitassem o seu pedido. Mas, tanto quanto me é dado saber, não houve ninguém de Macieira que se aventurasse a tal empreitada. Diziam todos que a viagem ainda fariam, mas dormir na igreja e dentro do caixão com velas acesas à sua volta, isso é que nem pensar.
Quero acreditar que, mesmo sem ter conseguido cumprir a promessa feita pelo seu marido, o santo os perdoou aos dois, pelo esforço que fez e pelas esmolas que ofereceu, e hoje se sentam ambos no céu, à direita de Deus Pai!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Kalashnikov morreu, mas perdura a sua criação!


Com 94 anos de idade morreu hoje Mikhail Kalashnikov o criador da arma que mais tiros disparou na Guerra do Ultramar, a AK-47 espingarda metralhadora usada pelos "turras" (como eram conhecidos na altura) de Angola, Guiné e Moçambique. Não fossem as minas e poderia dizer que ficou a dever-se a esta arma a maioria das baixas sofridas pelas nossas tropas.
A explicação da marca é a seguinte:
A de automática, K do nome do criador Kalashnikov e 47 do ano de fabrico da primeira de todas, 1947.
Do nosso lado houve 3 armas semelhantes a esta durante os 14 anos de guerra, a FN, a Armalite e a G3. A primeira usada pelo Exército e a segunda pelos paraquedistas, antes de termos comprado aos alemães a licença de fabrico da G3. Logo que esta entrou em produção na Fábrica do Braço de Prata, foram postas de parte as outras duas. As primeiras Unidades de Fuzileiros mobilizadas para o Ultramar já foram armados com a G3 fornecida pela Alemanha.
Pessoalmente nunca fui grande admirador da G3. Embora tenha tido pouco contacto com ela, gostava mais da FN que via nas mãos dos rapazes do Exército que estavam comigo em Moçambique. Por seu lado a AK-47 é mais maneirinha e todos gostam dela, mas é menos adequada a tiro de média distância que era aquilo que se pretendia na guerra de guerrilha que travamos nas ex-colónias. Nos casos de guerrilha urbana, como existe hoje um pouco por todo o Médio Oriente, a mais indicada é de facto a Kalashnikov, não falando de outras armas mais modernas que existem hoje um pouco por todo o lado e de várias origens.

Criança sofre!


Pôr uma criança de 7 ou 8 anos fora da cama às 6 da manhã para ir à igreja rezar a «Novena do Menino» é coisa para fanáticos. Mas era essa a educação religiosa que o Sr. Abade de Macieira tentava ensinar aos seus paroquianos e os pais não se sentiam nada inclinados a desobedecer a esses ensinamentos. Nove dias seguidos, antes do Dia de Natal, muito antes de nascer o dia já se rezava na igreja da nossa freguesia, preparando a vinda do Menino Jesus.
- Avó, está tanto frio, deixa-me dormir.
- Vamos, toca a vestir que já estamos atrasados.
- Mas eu não quero ir à igreja.
- Isso nem se discute, tu ainda não tens querer. Mexe-te que já estão todos lá fora à nossa espera.
Depois de mais alguns protestos e umas quantas lágrimas derramadas na tentativa de sensibilizar o coração da avó, não havia outro remédio senão enfrentar o frio e a chuva miudinha daquelas noites de dezembro. Nas noites mais escuras tornava-se necessário recorrer a uma manada de palha de colmo para alumiar o caminho e evitar as poças de água que estavam por todo o lado.
A caminhada era ainda considerável para as curtas pernas de uma criança, mas finalmente a igreja estava já à vista e dentro de alguns minutos estariam lá dentro abrigados do frio e da chuva. No presépio não havia menino, pois Ele não tinha ainda nascido. Mas assim mesmo a curiosidade e a admiração pela obra feita era muita e fazia esquecer o sacrifício que fora sair da cama àquela hora. As rezas não duravam muito e o caminho de regresso a casa fazia-se ainda sem que o sol se tivesse dignado aparecer.
Só no dia de Natal terminava o "martírio". Na véspera, a Ceia de Natal e de manhã o levantar mais tardio, além das cerimónias mais animadas que se seguiam na igreja, rapidamente faziam esquecer as nove madrugadas em que fora preciso saltar da cama a toque de caixa.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Feliz Natal!

Quando somos pequenos, tudo nos parece maior do que na realidade é. E quando vemos algo diferente daquilo a que estamos habituados, no dia a dia, arregalamos os olhos de espanto. Assim me acontecia a mim e creio que a todas as crianças da minha idade, quando entrava na igreja na época natalícia e ficava perante o presépio mais lindo do mundo.
É verdade, nunca vi nenhum presépio tão lindo, tão completo e tão bem imaginado como aquele que os "artistas" de Macieira montavam na igreja paroquial, cerca de uma semana antes do Natal. Era todo electrificado, tinha moinhos de vento em cima do monte, tinha uma azenha que se movia com a água do rio que lá corria, tinha serradores de madeira que não paravam de dar ao serrote, tinha ovelhas, pastores e cães, além de todas as outras figuras próprias de um presépio. E tinha um pinheiro de tamanho descomunal, assim me parecia nessa altura, todo ele enfeitado e iluminado a preceito.
Por baixo do presépio havia espaço suficiente para lá entrarem alguns rapazes e fazerem andar tudo aquilo que era suposto mexer-se. Não havia, nesses tempos, os recursos que hoje existem, de modo que tudo era operado manualmente. E com muita habilidade posso garantir. Nunca soube quem era o engenheiro daquele projecto, mas na verdade tudo funcionava na perfeição. Corri as freguesias em redor, Rates, Courel, Gueral, Chorente e Negreiros e nunca vi nenhum que se lhe pudesse comparar.
Parece que ainda estou a vê-lo, do lado direito da igreja, logo a seguir à capela-mor, ocupando todo o espaço entre o altar e o corredor central. Este ano ainda não fui espreitar, mas tenho que lá ir para ver se ainda o fazem como antigamente.


Quero aproveitar esta oportunidade para endossar a todos os leitores, seguidores e visitantes deste blog os meus votos de FELIZ NATAL e PRÓSPERO ANO NOVO.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A professora ...ina!

Fiz 6 anos no dia 9 de Março. Seria natural que no dia 7 de Outubro desse ano tivesse entrado para a Escola Primária de Macieira para frequentar a 1ª Classe. Mas o facto é que isso não aconteceu. A professora Alexandrina não aceitou a minha matrícula alegando que não tinha ainda feito 7 anos. Não sei se foi por ter excesso de alunos ou se apenas por birra. A minha mãe tinha uma ligação bastante estreita com a D.Josefina, professora da vizinha freguesia de Courel e calhou em conversa comentar com ela o acontecido.
- Oh, Rita, não seja esse o problema. Manda-me o rapaz que eu faço-lhe aqui a 1ª Classe e depois ele continua em Macieira no próximo ano.
Claro que a minha mãe ficou radiante com a solução, sem imaginar que isso não serviria para nada. A mim tocou-me a pior parte. Não conhecia ninguém em Courel, a começar pela própria professora, o caminho era longo e solitário e custou um bocado a habituar-me àquele sacrifício. Hoje, ninguém imaginaria possível mandar um puto de 6 anos e meio, a pé pelo meio daquelas bouças dos Eiteirais, numa caminhada de cerca de 3 quilómetros. Mas, como tudo na vida, a continuação fez-me gostar daquela escola e da professora e estranhei bastante no ano seguinte quando mudei para Macieira.


Encontrei esta foto no Facebook e decidi trazê-la para aqui, porque é exactamente igual àquela em que me sentava na Escola de Courel. Lembro-me como se estivesse lá sentado agora. Fiquei sentado na fila lateral, do lado sul, na segunda carteira a contar da frente. O meu colega de carteira era o Licínio da Aldeia com quem vivi algumas aventuras e tive algumas arrelias. No centro da carteira pode ver-se um tinteiro que continha tinta permanente e servia para molharmos a pena e escrever as letras do abecedário no caderno de duas linhas (caligrafia). A maior parte dos leitores não saberá sequer o que isso de pena e caderno de duas linhas significa, imagino eu.
Num belo dia, o meu colega de carteira, sem intenção acredito eu, salpicou-me o caderno de caligrafia com uns pingos de tinta. Para não ficar no prejuízo molhei a minha pena e sacudi-a em cima do caderno dele. E começou ali uma guerra que acabou comigo a entornar-lhe o tinteiro em cima. Depois aconteceu aquilo que era habitual nessas situações, uma sessão de bolos repartida entre os dois, pois a D.Josefina, como qualquer professora que se prezava de o ser, tinha a sua palmatória guardada para essas ocasiões, seguida de uma zanga com o Licínio que durou alguns dias.
Quando já estava a conhecer as pessoas e a habituar-me ao seu convívio, acabou-se o ano lectivo e vieram as férias grandes. E depois das férias a matrícula na escola da professora Alexandrina, em Macieira. Como tinha terminado a 1ª Classe com aproveitamento esperava entrar na turma da 2ª Classe. Engano meu. A professora apressou-se a dizer que não sabia nada disso nem queria saber, era o meu primeiro ano com ela e seria na 1ª Classe que me matricularia. E de que serviria não concordar com ela? Naqueles tempos a sua vontade era soberana e não se ganhava nada em remar contra a maré.
E assim tive uma 1ª Classe duplicada, com um ano da professora Josef...ina e outro da professora Alexandr...ina. Até nisso parece ter havido a mão do destino. E talvez tenha servido para eu ter sido um aluno acima da média nos anos que se seguiram. Não se perdeu tudo.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Ui que medo!


Sexta~feira 13, dia de sorte ou de azar? Depende daquilo em que cada um acredita ou dos medos que enchem a sua cabeça. Gatos pretos, lobisomens, bruxas, vampiros e outras coisas desse género dão boas histórias para filmes de terror que levam muitas pessoas ao cinema, coisa que as produtoras agradecem.
Passar debaixo de uma escada, partir um espelho, etc. só dá azar a quem acredita nisso e a grande maioria do povo não liga patavina a essas crendices. É um pouco como ter medo dos mortos e não se preocupar com os vivos que são quem de facto nos pode fazer mal. Os mortos não, esses estão sossegadinhos no buraco onde os meteram e não saem de lá por nada deste mundo.
Dizem que os arranha-céus, em Nova Iorque, passam do 12º para o 14º andar para que os elevadores não mostrem o número 13 a quem os utiliza. Ninguém quer ir para o 13º andar e então resolveram atribuir-lhe o número seguinte. Como se isso resolvesse alguma coisa!
Faço-vos um desafio. À meia-noite, antes de irem para a caminha, façam uma lista das coisas boas e das coisas más que vos aconteceram hoje, subtraiam umas das outras e vejam o resultado. E garanto-vos que o resultado não será diferente de qualquer outro dia da semana ou do mês.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Efectivos mobilizados!


Hoje encontrei esta foto na net e embora não tenha a certeza da exactidão dos números aqui apresentados quero deixá-la aqui como informação. Tudo aquilo que tenha a ver com a Guerra Colonial me interessa, quanto mais informação eu tiver melhor será.
Por aquilo que se entende da legenda trata-se apenas de tropas enviadas de Lisboa e haverá, por conseguinte, que considerar as tropas recrutadas em cada uma das três colónias que são também em número considerável.

sábado, 7 de dezembro de 2013

A mulher morta!


Há em Macieira um lugar conhecido pelo nome de «Alto da Mulher Morta» que fica situado (aproximadamente)  no ponto onde se tocam as freguesias de Macieira, Rates e Courel. Sempre me fez muita confusão um tal nome e nunca encontrei quem me soubesse explicar a sua origem. Mas como não sou de ficar quieto quando quero saber qualquer coisa, continuei a fazer a pergunta cada vez que me surgia uma oportunidade. Até que um dia alguém (já não recordo quem) me explicou que em tempos houve naquele lugar um grande incêndio que consumiu grande quantidade de mato, pinheiros e eucaliptos. Nesse tempo não havia, como há hoje, carros de bombeiros que acorrem ao nosso chamamento e nem tão pouco havia um telefone para os chamar. Tocou a rebate o sino da aldeia e apareceram muitas pessoas prontas para lutar contra as chamas, mas o calor era tanto e as chamas tão altas que nada puderam fazer. Ardeu o que tinha que arder e o fogo foi-se extinguindo conforme se ia aproximando dos terrenos cultivados ou esbarrava nos populares que lhe faziam frente.
Com a chegada da noite, o arrefecimento da temperatura do ar e um último esforço das pessoas que o combatiam o incêndio foi dado por extinto e as pessoas regressaram às suas casas. Na manhã seguinte, os proprietários dos terrenos atingidos pelo fogo dirigiram-se ao local para ajuizar dos prejuízos. Cada um percorreu os terrenos que lhe pertenciam e a páginas tantas alguém começou a gritar chamando a atenção de todos os outros. Isso fez toda a gente convergir para o ponto onde se encontrava aquele que tinha gritado e que, de olhos esbugalhados, olhava para um cadáver de uma mulher calcinado pelo fogo do dia anterior.
Veio a GNR e os serviços sanitários de Barcelos para tomar conta da ocorrência e levantar o corpo. Nos dias que se seguiram todos queriam saber a quem pertencia aquele corpo, uma vez que em Macieira não se tinha dado por falta de ninguém. Correu a notícia por Rates e Courel, mas também lá não havia notícia de faltar qualquer pessoa. Os dias foram passando e o assunto caindo no esquecimento das pessoas de Macieira. E de Barcelos também nunca foi recebida qualquer explicação para a falta de identificação do cadáver encontrado. Talvez algum pobre pedinte vindo de longe e sem família que desse pela sua falta.
E daí em diante, para o povo de Macieira aquele lugar começou a ser conhecido pelo nome de «Lugar da Mulher Morta».
Quem discordar do que aqui escrevo ou conhecer outra versão da história agradeço que deixe aqui um comentário. Será um contributo valioso para a História de Macieira.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Agora sim, um conto!



Ontem afirmei que não sou de contos, mas hoje apeteceu-me contar-vos um conto que tem foros de realidade. Refere-se a dois amigos que moravam em Macieira e juntos decidiram ir até à Borralha tentar arranjar trabalho para dar de comer aos filhos que tinham em casa a passar fome.
Um belo dia puseram às costas uma sacola com alguns pertences e um naco de broa de milho para fazer frente às primeiras ameaças de fome e enfrentaram a primeira etapa da viagem, a pé, até à estação dos Caminhos de Ferro de Nine. Daí uma curta viagem de comboio até Braga. De Braga até à freguesia de Salto, no concelho de Montalegre, são umas dezenas de quilómetros, mas não havia outro remédio senão fazê-los a pé também, pois a época dos automóveis vinha ainda longe.
Chegados às instalações mineiras que nessa altura, por volta de 1950, laboravam a todo o gás, não conseguiram ser admitidos. Segundo o engenheiro responsável já tinham mais gente do que precisavam e era até provável que muito em breve acontecessem alguns despedimentos. Desanimados prepararam-se para fazer o caminho de volta até Braga e lá chegados decidir o que fazer da sua vida. Por sorte um dos camiões da mina que ia a sair dirigia-se para Braga e deu-lhes uma boleia que lhes tirou das pernas umas quantas horas de caminho. Já era melhor que nada.
Como não conheciam nada nem ninguém na cidade grande perguntaram ao camionista se conhecia algum lugar onde pudessem ficar para dormir e arranjar alguma coisa para comer. Ele levou-os até uma espécie de albergue onde se costumavam juntar trabalhadores de um grande empreiteiro do Porto que andava a trabalhar para os Correios instalando cabos telefónicos na estrada que liga Braga a Guimarães. Ali regressavam à noite, depois de um dia agarrados à pá e pica, para descansar até ao dia seguinte.
Os dois amigos que não queriam voltar para Macieira mais pobres do que de lá tinham saído, viram ali uma oportunidade de arranjar qualquer coisa. Na manhã seguinte falaram com o capataz dos trabalhadores e ele prometeu que os recomendaria ao engenheiro chefe da sua empresa logo que ele aparecesse na obra. Para isso tiveram que acompanhar os outros trabalhadores para o lugar onde se desenvolvia a obra e por lá foram queimando o tempo até que o engenheiro chegasse. Não aconteceu logo, mas acabaram por conseguir ser admitidos e começar a trabalhar nessa empresa do Porto.
À noite, porque não tinham dinheiro para comer, iam pedinchar uma tijela de sopa à Legião Portuguesa e depois dormir uma soneca, em cima de uns sacos de serapilheira, e esperar pelo transporte que, manhã cedo, os levaria para retomar o trabalho no sítio onde tinha sido interrompido no dia anterior. Um dos dois amigos era fumador inveterado e depois da tijela da sopa passava pela estação dos caminhos de ferro de Braga para apanhar algumas pontas de cigarro que depois desfazia e usando um livrinho de mortalhas enrolava alguns cigarros que dariam para matar o vício no dia seguinte.
À hora da refeição do meio dia, pouco mais comiam que um pedaço de broa que andava sempre com eles na sacola e com alguma sorte conseguiam, às vezes, comprar numa casa das redondezas um prato de sopa a troco de alguns tostões. Depois de recebido o primeiro ordenado as coisas tornaram-se mais fáceis e sempre se podia comprar uma pele de bacalhau ou um coirato de porco para ajudar a empurrar a broa pela goela abaixo. Uma verdadeira vida de escravo e uma miséria danada que hoje é difícil de entender, tendo sempre em vista poupar todos os tostões possíveis para levar para casa e dar de comer à família.
Dos dois amigos macieirenses aquele que era fumador tinha uma saúde mais débil e ao fim de pouco tempo começou a ressentir-se acabando por regressar a casa. O outro continuou e por lá ficou até ser dispensado pela empresa quando a empreitada terminou. Alguns anos mais tarde voltaria a pedir emprego ao mesmo engenheiro e participado na empreitada que fez a instalação de um cabo entre o Porto e Braga, pelas valetas da Estrada Nacional Nº14.
E era assim a vida nesses tempos. Um pouco a trabalhar na lavoura e outro tanto fora dela quando o trabalho abrandava. Já quase não há quem se lembre de quão difícil era a vida, há pouco mais de meio século, mas posso garantir que não há ponta de exagero naquilo que acabo de descrever.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Contar um conto!

Ruínas das Minas da Borralha-Montalegre

Não tenho habilidade para contar contos. Contos são histórias que não aconteceram e que o contista tem que ter a habilidade de ir construindo à maneira que vai avançando sem perder de vista o final que quer oferecer aos seus leitores. Eu sou mais de fazer relatos de coisas que realmente aconteceram ou de contar a história de pessoas reais que eu conheci ou de quem ouvi falar. E nos quase 70 anos que já levo de vida, eu conheci muita gente e presenciei acontecimentos que dariam para escrever meia dúzia de livros de lombada bem grossa. A questão está em escolher algo que desperte o interesse de quem esperamos que nos leia. E neste blog que foi criado a pensar nas pessoas de Macieira, os combatentes e os seus familiares, só terá sentido escrever sobre alguma coisa que a eles diga respeito. Ora vamos lá tentar.
Em meados do século passado, com a Europa a sair de uma guerra devastadora, Portugal vivia uma crise que não pode comparar-se à que hoje nos aflige. A população rural não tinha alternativa senão trabalhar a terra. O mal é que o trabalho não chegava para todos nem durava todo o ano. Indústria não havia e o comércio ocupava meia dúzia de pessoas. As famílias mais pobres viam-se e desejavam-se para matar a fome aos seus filhos. A época de emigração para a Europa aconteceria apenas após o ano de 1960 e os macieirenses tinham que procurar trabalho fosse onde fosse. Alguns aceitaram as propostas do Dr. Oliveira Salazar e decidiram tentar a sorte em Angola, como aconteceu com o filho mais velho do Tio Salvador do Velho ou o Tio David Vitorino e outros que agora não me vêm à ideia. Outros optavam pelo Brasil, mas sempre a medo, pois se dizia que quem para lá ia nunca mais voltava. Tanto num como no outro caso, era preciso dinheiro para se dar esse passo, coisa que era o que mais faltava no bolso de quem vivia de colher meia dúzia de carros de milho ou pipas de vinho em cada S.Miguel, ou de um salário que não dava para fazer qualquer economia.
O sonho de muitos dos homens de Macieira (nesse tempo não se falava ainda de emprego para as mulheres) era arranjar trabalho fora da agricultura. A construção civil, tal como a conhecemos hoje, também não existia o que reduzia drasticamente o leque de possibilidades que se abriam aos candidatos. Talvez algumas obras públicas, alargamento das redes eléctricas, de estradas ou de comunicações ou as minas fossem uma alternativa. Tornava-se necessário abandonar o conforto do lar e partir à aventura para garantir o pão nosso de cada dia a quem não tinha ainda idade para o fazer por si próprio.
Tudo isso fizeram os homens de Macieira nos anos difíceis do pós-guerra. Durante uns poucos anos apareceu a «Febre do Volfrâmio» que ocupou muita gente e deu algum dinheiro a ganhar, mas foi sol de pouca dura. Com o fim da II Guerra Mundial o fabrico de armas diminuiu e o interesse das potências europeias nesse minério desapareceu, deixando Macieira toda esburacada e os homens sem trabalho, de novo.
Conheci gente que foi trabalhar para a Ilha da Madeira, para as Minas da Borralha ou que se juntaram aos empreiteiros que andavam a instalar cabos telefónicos entre o Porto, Braga e Guimarães. Felizmente não havia ainda as máquinas escavadoras e as valas para enterrar os cabos, nas valetas das nossas estradas nacionais, ocupavam muitas dezenas de homens agarrados à pá e picareta. Por um ordenado diário que dificilmente ultrapassava os 25$00, era preciso dar-lhe com coragem, de manhã à noite, seis dias por semana, para garantir não ser despedido. É fácil, por conseguinte, perceber a razão por que se dizia que o povo comia «o pão que o diabo amassou». Vidas que não têm qualquer comparação com as que vivem os homens de hoje.
Todos esses habitantes de Macieira, da geração anterior à minha, ficariam muito felizes se pudessem viver esta crise que um governo mal preparado nos tem oferecido, desde há uns anos a esta parte. E tudo isto para dizer que me parece que há muita gente a queixar-se ... de barriga cheia!

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Combatentes - Américo Oliveira

Nome - Américo dos Santos Martins de Oliveira
Nascido em - 5 de Fevereiro de 1946
Data de alistamento - 18 de Abril de 1967
Ramo das F.A. - Exército
Especialidade - Atirador
Matrícula - 112873/67
Posto - 1º Cabo
Mobilizado em - 27 de Janeiro de 1968
Destino - Angola
Unidade - Comando de Agrupamento 2950
Transporte - Navio Uíge
Regresso em 26 de Abril de 1970
Transporte - Navio Uíge
Mortos na comissão - 0



O Américo teve uma vida militar mais complicada aqui na Metrópole do que em Angola para onde foi enviado para cumprir uma comissão de dois anos. Numa certa altura quiseram empurrá-lo para os Comandos, mas conseguiu escapar-se reprovando nos testes de admissão. Mesmo assim, foi chamado e mobilizado para o RAL 1 de Lisboa com a indicação que pertencia aos comandos.
Afinal acabou por ser a sorte dele, pois foi incluído num «Comando de Agrupamento», o 2950, que se destinava à vila de Carmona, zona de forte actividade terrorista, mas acabou por nunca lá chegar tendo passado toda a comissão de serviço numa zona mais sossegada da província do Uíge e não teve que participar em qualquer operação que pusesse em perigo a sua vida.
Os Comandos de Agrupamento eram uma espécie de delegação do Quartel General e tinham mais oficiais e sargentos do que praças. O seu trabalho era coordenar as tropas da sua zona e tratar dos problemas relacionados com a logística para garantir um bom funcionamento da orgânica militar. Pode dizer-se que o Américo teve uma guerra santa. Nem todos tiveram a mesma sorte!

domingo, 24 de novembro de 2013

De visita à Terra Natal!

Hoje fui até Macieira. A ideia era entrevistar alguns combatentes que me caíssem na rede, mas não tive muita sorte. Ao passar no Lugar de Talho apanhei o Américo e um pouco mais à frente, no Lugar de Outil, o José Rodrigues. Do Américo recolhi os dados necessários para publicar a sua história, o que farei brevemente. Depois segui viagem e não consegui encontrar quem procurava. Regressei a casa pela Pinguelinha, a caminho de Rates, e parei apenas para bater umas chapas para a minha galeria de recordações.

Clicar nas imagens para as ampliar
Travassos e Outeiro vistos da Cumieira

Minas e Penedo vistos do Campo de Futebol

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Não há regra sem excepção!

Futebol não é assunto que esteja no âmbito deste blog, mas hoje tudo nos é permitido. A vitória épica conseguida hoje em Estocolmo que validou o nosso passaporte para o Brasil 2014 dá-me o direito de abrir uma excepção e esquecer por momentos as matérias relacionadas com os combatentes.
Na primeira metade do Século XX Portugal tinha ainda um império ultramarino que se estendia do Minho até Timor. Quem já tiver esquecido, ou tiver nascido depois do 25 de Abril, pode consultar o mapa abaixo que está lá tudo. A D.Alexandrina, minha professora da 4ª Classe, obrigava-nos a conhecê-lo na ponta da unha e quem falhasse as respostas candidatava-se a levar com a cana da Índia pelas orelhas abaixo.


Na primeira metade do Século XXI já não temos nada disso, mas temos outra coisa que nos enche de orgulho, o Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo. Quem assistiu ao jogo disputado hoje em Estocolmo que nos apurou para o campeonato mundial Brasil 2014, não vai esquecer este dia.


Não é qualquer jogador que consegue marcar um «Hat-Trick» num jogo como este que condenava a equipa perdedora a ficar de fora da prova maior do futebol, portanto um jogo em que cada atleta dá tudo o que tem. Ele conseguiu-o e todos nós temos que prestar-lhe a homenagem que merece.
Força CR7, és o melhor do mundo!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A Casa do Zé das Ovelhas!


O que determina o valor de um bem, seja ele móvel ou imóvel, é o interesse que possa despertar aos interessados em investir nesses bens. A casa que vêem na imagem está desabitada há muitos anos, aliás vê-se isso pelo seu aspecto decrépito. A menos que o proprietário lhe reconheça algum valor estimativo e não a queira vender por qualquer preço, temos que admitir que este bem (casa e terreno anexo) não vale um pataco, uma vez que ninguém se mostra interessado em comprá-lo.
Nos meus tempos de criança passei ali bons momentos. Os quatro rapazes que lá moravam eram os meus parceiros de brincadeiras e as árvores de fruto que existiam na sua horta eram uma tentação extra, no tempo da fruta. Depois, toda a família emigrou e foi para lá morar uma personagem sobejamente conhecida em Macieira, o Zé das Ovelhas. Confesso que mal me lembro deste homem, pois tendo saído de Macieira muito novo nunca convivi com ele nem com a sua família.
Hoje, esta casa é conhecida pelo nome do seu último inquilino, «A Casa do Zé das Ovelhas». Também não sei há quanto tempo ele a abandonou ou que destino levou, mas pelo aspecto da casa já devem ter passado dezenas de anos. Tanto quanto sei, o proprietário é um dos filhos do Laurindo Loureiro, de Gueral, que é também dono da casa onde eu nasci e que, tal como esta, está também em ruínas. Admito que apenas os terrenos estão a ser aproveitados para fins agrícolas. Fraco rendimento para tanto metro quadrado de terreno. É a pobreza do nosso país no seu melhor.

domingo, 17 de novembro de 2013

A passagem para a outra margem!


Está prometido e as promessas são para cumprir!
Amanhã, dia 18 de Novembro, vão (re)começar as obras de recuperação da Ponte do Lobar e os próximos visitantes que vierem assistir à Festa de S.Tiago (que era o caso destes que desciam a Rua do Picoto) já não terão que saltar por cima do obstáculo.
Entende-se que a actual crise e a escassez de recursos tenha dificultado o arranque desta obra, mas a cor política da Câmara de Barcelos e da Junta de Freguesia de Macieira também devem ter dado o seu contributo. Resta-nos a esperança de que a nova equipa que gere os destinos da freguesia tenha a habilidade suficiente para ultrapassar essa questão.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Caminho para a escola!


Uma das entradas para a «Quinta do Margarido». Ao fundo o casario do Lugar de Talho e por trás dele algumas casas do Lugar do Picoto.
Se bem me lembro, o nome do dono destas terras era Aparício Carvalho, pai do actual proprietário,  o Aurélio, portanto não sei de onde vem o nome de Margarido. Mas aquilo que eu sei é que este caminho era o meu preferido nas deslocações de casa para a escola.
Ao passar em frente ao portão, situado debaixo daquelas árvores que se vêem do lado esquerdo da imagem, se havia um cão à solta era preciso dar ás de Vila Diogo para escapar aos seus dentes. Em três tempos estava no Lugar de Talho, passava pela Fonte de Crujes e pela casa do Fontes e logo desaguava no adro da igreja, onde ficava a nossa escola.
Os donos da quinta não gostavam muito que a gente fizesse daquilo passagem habitual, mas lá iam consentindo e tratando-se das crianças do lugar a caminho da escola, fechavam os olhos e mantinham os cães presos para evitar algum percalço. E no verão havia árvores de fruto que, do lado de cima, deixavam cair alguns frutos para o caminho. À falta de melhor passavam a fazer parte do lanche a comer na hora do recreio, pois na bolsa nada mais havia para trincar além de um naco de broa de milho.
Que tempos aqueles!

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Irmãos Farinheiro!

Ainda não consegui adiantar mais nenhum passo na história dos irmãos «Farinheiro», mas foi-me garantido que todos os 4 irmãos prestaram serviço militar em Angola. Um deles, não sei ainda qual, foi condutor e praticou um acto heróico que lhe deu direito a uma condecoração. Transcrevo abaixo a mensagem recebida, via Facebook, de um dos seus camaradas de armas:

O Vitorino cumpriu parte do serviço militar em Sá da Bandeira. Tendo-se distinguido como condutor. Foi condecorado porque num grande acidente em que perdeu a vida um companheiro nosso, e vários outros feridos, ele conseguiu carregar todos para o hospital, apesar de ter um estilhaço de granada no peito, e só depois desmaiou.
«António Alves»

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Alguns dados históricos!

A reforma administrativa de 2012 que levou à extinção de cerca de um quarto das freguesias portuguesas, também conhecida por «Reforma do Relvas», não foi a primeira nem vai ser a última. Do modo que toda a gente ficou descontente com o resultado, pode adivinhar-se que a próxima não demorará muito a aparecer. Se o António José Seguro ganhar as próximas eleições legislativas, o que é bem provável que possa acontecer, e for homem de palavra, a lei que originou a reforma será revogada e aí começará tudo de novo.
Barcelos sempre teve poderes administrativos, desde o início da nossa História. Muitos concelhos portugueses apareceram e desapareceram ao sabor dos ventos da política, mas, de acordo com as pesquisas que levei a cabo, Barcelos não é um desses casos. Para se perceber melhor o que têm sido essas reformas, podem encontrar aqui abaixo o número de concelhos existentes em Portugal ao longo de todo o Século XIX e até ao fim da Monarquia.

Ano              1827  1832  1835  1836  1842  1853  1878  1911
Concelhos     806    796    799    351    381    268    290    291

Como se pode deduzir dos números acima, criar e extinguir concelhos parece ser o nosso desporto nacional. No que respeita às freguesias não consegui encontrar dados, mas não deve ter sido muito diferente do que se passou com os concelhos.
Em cada uma das Reformas Administrativas levadas a cabo, o concelho de Barcelos sofreu grandes alterações. No mapa abaixo pode ver-se como era por volta de 1822, quase o dobro daquilo que é hoje.


Apenas 20 anos depois já o concelho de Barcelos tinha um aspecto completamente diferente, tal como se pode ver nesta imagem:


No que se refere à nossa freguesia de Macieira, é frustrante a exiguidade de informação existente na internet. E não havendo nada que nos faça acreditar no contrário, pode assumir-se que, ao longo dos últimos dois séculos, nada ou quase nada tenha mudado. Depois de publicada a Lei 11-A/2013, o concelho de Barcelos passou de 89 para 61 freguesias. As 28 extintas passaram, na pratica, a ser lugares daquelas que foram escolhidas para serem as sedes das novas freguesias criadas pela agregação.
Tomando por base a população residente, a maior freguesia é Arcozelo (13.375 Habitantes) e a mais pequena é Adães (739 Habitantes).
E tomando por base a área total da freguesia, a maior passou a ser Chorente (16,47 Kms2) e a mais pequena Silva (2,20 Kms2).
Quanto a Macieira, ocupamos o 21º lugar por número de habitantes (1.967) e o 15º lugar se considerarmos a área da freguesia (7,56 Kms2).
Já o concelho, este ocupa o 23º lugar a nível nacional em número de habitantes (cerca de 122.000).

sábado, 2 de novembro de 2013

Guerra contra a Barragem!


Há tempos que ando a tentar encontrar-me com o Leopoldino Fonseca para ouvir o seu relato da passagem pela Guerra Colonial, mas por uma ou outra razão ainda o não consegui fazer. Nos dois anos que ele passou em Moçambique esteve em 3 lugares tão distintos como Nova Coimbra, no Niassa, Chiringa, em Tete, e até Lourenço Marques, capital da província. Nova Coimbra era o mais civilizado aquartelamento militar do «Estado de Minas Gerais», assim chamado por serem tantas as minas com que a Frelimo brindava as nossas tropas. A sua proximidade com Metangula, onde existia a Base dos Fuzileiros, fazia com que fosse sofrível a vida naquele canto do mundo. Um pouco mais a norte, no Lunho, as coisas fiavam mais miudinho. Espero ter uma boa história para contar depois de falar com o Leopoldino.
Do período passado em Lourenço Marques não haverá muito a dizer, uma vez que na capital não havia o mínimo sinal de guerra. Mas outra coisa é falar de Tete, onde a guerra se tornou um inferno por causa da construção da barragem de Cabora Bassa. Desde 1968 a 1972 foram 4 anos de muita luta, muita determinação para levar por diante uma obra daquela envergadura. Antes de começarem as obras não havia praticamente nenhuma actividade da guerrilha, mas conforme  a construção avançava aumentava o esforço da Frelimo para prejudicar o andamento da obra. A guerrilha aumentou os seus efectivos naquela zona que se tornou o principal teatro de guerra em Moçambique, ultrapassando o de Cabo Delgado. O Malawi fechava os olhos à passagem dos guerrilheiros enquanto que a Zâmbia os apoiava abertamente. O governo português não teve outro remédio senão responder da mesma maneira e começou a deslocar para a zona grandes contingentes de tropa.


Foi preciso construir de raíz os aquartelamentos onde as nossas tropas deviam ficar acantonadas e, à boa moda portuguesa, eram os próprios soldados que deixando a G3 em descanso se armavam em pedreiros e trolhas para dar vida àquilo que seria o seu lar nos tempos mais próximos. Assim aconteceu em Chiringa, na margem esquerda do Zambeze, numa zona que se transformara num autêntico corredor usado pelos "turras" vindos do Malawi para criar dificuldades na zona da barragem. E para lá foi enviado, no início do ano de 1970, o Leopoldino onde passou muitos meses criando condições para os camaradas que os iriam substituir quando chegasse o seu tempo de dizer adeus à guerra. Quando me encontrar com ele espero ter algumas fotografias para vos mostrar as coisas como elas eram.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Pobre rio!


Entre Goios, onde nasce, até Macieira, onde "quase" desagua, o nosso rio atravessa de uma ponta à outra a freguesia de Chorente. Há dias publiquei uma foto bem bonita do lugar onde ele entra na nossa terra, mas hoje pesa-me ter que mostrar o outro lado da coisa, um rio totalmente poluído. Alguma fabriqueta que está a despejar água suja no rio sem que ninguém se preocupe com isso. Pode até nem ser tóxico, mas bonito também não é.


Este até podia ser um lugar idílico. Um passeio empedrado à moda romana com o rio a correr ao seu lado bem podia dar um belo postal ilustrado para promover a freguesia de Chorente. Mas obstruído como está por ervas e outras porcarias e a água carregada de poluição é um autêntico desastre. Fechando os olhos consigo ver um riozinho de águas cristalinas, ladeado por um passeio bem tratado por onde se passeia um casal de namorados numa tarde de domingo. Mas ao abri-los vejo apenas um canal de esgoto a céu aberto.


Coisa estranha também é o rio ter maior caudal em Chorente que em Macieira, pois seria normal que este fosse aumentando conforme o rio se vai afastando da sua nascente. Mas numa altura em que o milho agradece todas as pingas de água que pode receber, eu acredito que a água encontra melhor destino do que ir simplesmente engrossar o caudal do rio Este. E os milheirais de Gueral e Macieira agradecem.

domingo, 27 de outubro de 2013

Combatentes - Manuel Silva!

Nome - Manuel Alves da Silva
Nascido em - 9 de Março de 1944
Incorporado em - 10 de Março de 1962
Ramo das F.A. - Marinha
Classe - Fuzileiros
Matrícula - 8079/62
Posto - Marinheiro
1ª Comissão:
Mobilizado em - 2 de Novembro de 1962
Unidade - Companhia de Fuzileiros Nº 2
Destino - Moçambique
Transporte - Avião da FAP
Regresso - 11 de Abril de 1965
Transporte - Navio Infante D.Henrique
2ª Comissão:
Mobilizado em - 15 de Outubro de 1965
Unidade - Companhia de Fuzileiros Nº 8
Destino - Moçambique
Transporte - Navio Niassa
Regresso - 20 de Março de 1968
Transporte - Navio Vera Cruz


A minha passagem pela guerra teve um pouco de tudo. Na primeira comissão, quando não havia ainda sinais da guerra que começaria apenas no fim do mês de Setembro de 1964, foram dois anos de autênticas férias na capital Lourenço Marques. Fazer serviço de rotina no aquartelamento, situado nos arredores da cidade, manter o físico em ordem e namorar tudo que fosse possível. Que se podia esperar de um jovem que ainda nem 20 anos de vida tinha completado?
Faltava pouco para terminar a comissão e regressar a Lisboa quando rebentou a bomba. Uma cena de tiros contra um Posto Administrativo no distrito de Cabo Delgado e umas rajadas de metralhadora contra uma Lancha de Fiscalização no Lago Niassa acabaram com a "dolce-vita" que durava há dois anos. Depois de recebida a ordem do Comando Naval demorou menos de 3 horas para um pelotão completo se apresentar no aeroporto e rumar a Vila Cabral, capital do distrito do Niassa. Tão séria era a ameaça, ou assim foi tomada pelo nosso governo, que até o Almirante Comandante Naval nos acompanhou nessa viagem.
A vila de Augusto Cardoso, mais conhecida entre nós pelo nome original de Metangula, não tinha mais que a Base da Marinha, um Posto Administrativo e uma Cantina que vendia aos habitantes da zona os bens de primeira necessidade, além de um amontoado de palhotas onde viviam umas poucas centenas de pessoas. Aí permaneci até ao fim de Janeiro de 1965 sem ter sentido quaisquer sinais de guerra. Se havia por lá alguns membros da Frelimo, eles faziam tudo para não se deixarem ver. Eles de um lado e nós do outro, vivíamos a nossa vida na paz dos anjos.


No dia 9 de Janeiro de 1965, a lancha de fiscalização Castor dirigiu-se a uma povoação costeira, junto da fronteira com o Tanganica (era assim que se chamava nessa altura), para uma acção de «busca e controlo» ordenada pela PIDE. Um guia nativo, uma secção de fuzileiros, composta por 9 homens, comandada por um oficial de baixa patente, a tripulação da lancha, composta de 6 homens, o comandante da Base da Marinha e um agente da referida polícia política eram as forças em presença naquela praia, nesse dia.
Com o guia e o agente da PIDE a abrir a marcha e os fuzileiros a garantir-lhes a segurança, e a lancha ainda aproada à areia da pequena praia, foi desencadeado um tiroteio que podia ter ditado a morte de muitos de nós. Dois ninhos de metralhadoras, estrategicamente colocados em pontos altos de frente para a margem do lago, se manejados por mãos experientes poderiam ter feito grandes estragos entre os 12 homens que se encontravam em terra. Felizmente não acertaram em ninguém e só na altura do reembarque, quando já ninguém contava com eles pensando que teriam fugido após as primeiras rajadas, acertaram dois tiros no nosso guia que não resistiu aos ferimentos. O Comandante achou que não íamos preparados nem valia a pena, pois o risco era grande, ir em perseguição dos "turras" e deu ordem de retirada.


A mesma secção de fuzileiros, numa acção semelhante alguns dias depois, abateu um negro que se pôs em fuga quando foi mandado parar. Carregava um grande fardo à cabeça e suspeitou-se que pudessem ser armas ou munições, afinal não passava de um grande cesto cheio de mandioca. Se tivesse obedecido à ordem, nada lhe teria acontecido.
Tanto quanto recordo e pelo que ouvi contar, foram estes dois negros as primeiras vítimas da guerra no distrito do Niassa, noroeste de Moçambique. Alguns dias depois fomos rendidos por um Destacamento de Fuzileiros Especiais e regressámos a Lourenço Marques para preparar a viagem de regresso a Lisboa. Em Outubro desse mesmo ano, eu estaria de regresso a Lourenço Marques para uma nova comissão de dois anos, mas isso é outra história que fica para contar mais tarde.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

De novo à beira da guerra!

Num momento em que Moçambique enfrenta de novo a possibilidade de entrar em guerra, guerra civil para piorar as coisas, achei por bem trazer aqui um pequeno texto que encontrei na internet sobre a História de Moçambique, até à sua independência. É de facto muito resumido, mas tudo que se possa encontrar, com dados mais ou menos fidedignos, deve ser aproveitado. Aqui fica para quem se interessar pelo assunto.


A partir do século três e nos seguintes, os povos que ocupavam o território, dedicavam-se à caça e à pesca. O território foi depois invadido por vários humanos supostamente oriundos da floresta congolesa. Esta expansão designada banto, penetrou no território moçambicano através dos vales dos rios que provêm do interior do continente, e vieram introduzir as actividades agrícola e pecuária, difundindo simultaneamente a tecnologia da metalurgia do ferro.
Com a expansão do Islão ao longo de todo o litoral oriental africano, houve contacto entre as várias comunidades que coexistiam em importantes centros da faixa litoral onde se dedicavam essencialmente ao comércio. Desta fusão das comunidades Bantas, e dos Árabes nasceu a cultura Suailli de que faz parte o litoral do Quénia, Tanzânia e Norte de Moçambique.
No final do século XV os Portugueses chegaram então ao litoral de Moçambique. A sua chegada coincide com a expansão dos Muenemutapas, que se expandiram a partir do planalto do Zimbabwe e chegaram a ocupar um vasto território que se estendia por quase toda a África austral de costa a costa. Este império veio a desintegrar-se durante o século XVII. Os Portugueses ajudados pelos povos locais foram aumentando a sua presença por todo Moçambique, provocando o recuo da concorrência das comunidades árabe-suaillis. Foram então dominando todas as rotas comerciais de bens destinadas à Europa.
Contudo, a presença efectiva portuguesa no território era muito fraca. Sucederam-se então varias disputas entre os povos do interior.
Em 1884-1885, a conferência de Berlim impõe às potências colonizadoras a obrigatoriedade de ocupação efectiva dos territórios. Portugal intensifica então as operações militares no interior do território, que veio culminar com a detenção do soberano Gungunhana em 1895. Mas Portugal não tinha população suficiente para ocupar Moçambique, então pediu ajuda ao estrangeiro, começando assim uma longa história de dependência externa, nomeadamente da África do Sul, que recrutava no sul de Moçambique mão-de-obra para as suas minas, enquanto que o norte era arrendado a companhias estrangeiras, maioritariamente inglesas. As infraestruturas desenvolvidas em Moçambique, nomeadamente portos e vias de comunicação, são projectadas na perspectiva de servir as colónias inglesas no interior do continente. Assiste-se também, durante este período, à fixação de uma colónia de imigrantes portugueses que se ocupará do sector agrícola, beneficiando da expropriação de terras à população local.
A partir do século XX mais propriamente nos anos 30, o estado novo português tenta criar uma base produtiva mais consistente, desenvolvendo as culturas do algodão e do tabaco e introduzindo novas culturas como o caju e o coco. Com esta aposta económica, assiste-se ao desenvolvimento das cidades, dos transportes e do turismo, que levou a um grande crescimento económico ao qual atraiu uma nova vaga de colonos portugueses durante os anos 50 e 60.
Durante os anos 50, e devido aos movimentos de emancipação presentes no continente africano a seguir a segunda guerra mundial, surgem a Manu ( União Nacional Africana de Moçambique) na Tanzânia, e em Salisbúria é fundada a UDENAMO ( União Democrática Nacional de Moçambique).
Em 1960 a violenta repressão dos manifestantes de Mueda (situada na província de Cabo Delgado) salda-se por mais de meio milhar de mortos.
Em 1961 no Malawi, é fundada a União Nacional Africana para Moçambique Independente.
A 25 de Julho de 1962, Eduardo Mondlane (à data, funcionário das Nações Unidas) reúne na Tanzânia todos os líderes dos movimentos e das etnias do território e funda a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique).
Mais tarde, a 5 de Setembro de 1964, a FRELIMO efectua um ataque a Mueda, dando início à luta armada contra o poder colonial. O General Alberto Chipande foi o homem a dar o primeiro tiro, matando um soldado português e dando inicio à guerra colonial.
Em 68, no âmbito da estratégia de promoção de um mais rápido crescimento económico e num contexto de estreitamento das relações económicas com a África do Sul, o governo de Salazar decide iniciar o processo que permitirá a construção da Barragem de Cabora Bassa.
Em 1969 Eduardo Mondlane, o grande líder e herói nacional da FRELIMO é assassinado em Dar-es-Salaam a 3 de Fevereiro. A FRELIMO não se deixou abalar e continua a guerra. Do II Congresso da FRELIMO, realizado no centro interior do Território, Samora Moises Machel é eleito o novo presidente e intensifica a luta armada.
1970, Kaúlza de Arriaga, comandante-chefe das forças armadas portuguesas em Moçambique, desencadeia a Operação Nó Górdio de que resulta o desmantelamento de grande parte do complexo da FRELIMO no planalto dos Macondes. Contudo, a FRELIMO não foi eliminada e procura levar a guerra para o sul.
Em 1971, nas Nações Unidas, a FRELIMO afirma controlar um terço do pais.
A FRELIMO consegue em 1972 passar o rio Zambeze e penetrar no sul do distrito de Tete. Contingentes das forças armadas portuguesas concretizam em Chawola, Wiriyamu e Juwau, três dos mais graves massacres ocorridos durante a guerra colonial. Em Wiriyamu (zona de Tete), foram assassinados 400 civis em 16 de Dezembro.
Em 1973 a insegurança chega a estrada entre a Beira e a Rodésia e no fim do ano verificam-se os primeiros incidentes na estrada Beira-Lourenço Marques. As autoridades portuguesas reforçam o dispositivo militar e fomentam a africanização das tropas, conseguindo que mais de 50% do contingente militar global seja formado por Moçambique.
Pouco tempo depois da revolução do 25 de Abril de 1974 em Portugal, iniciam-se as negociações com vista à independência de Moçambique, que será formalmente proclamada a 25 de Junho de 1975.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A Maria do Rio!

Falar da Maria do Rio, em Macieira, é falar da filha da Casa do Novais do Rio, mulher sobejamente conhecida pela sua ligação à igreja e ao grupo de canto coral que animava as cerimónias religiosas a que eu assistia quando criança. Mas em minha casa falar da Maria do Rio era falar de uma das filhas da Tia Alzira do Torres e do Sr. Porfírio, aliás, Maria do Porfírio era outro dos nomes por que era conhecida É desta Maria que hoje vou falar, mas a história começa muitos anos antes.
A minha mãe nasceu em Rio Mau, mas ainda criança muito pequena mudou-se para Macieira. Embora a minha bisavó (a famosa Eusébia da casa do Velho que deu nome à família) fosse natural de Macieira casou para a freguesia de Barqueiros e foi lá que nasceu a minha avó. Os azares da vida levaram esta até Rio Mau e, anos mais tarde, já com uma filha pela mão foi ter a Macieira, talvez movida pelo chamamento dos seus antepassados. A Barqueiros nunca mais voltou, parece não ter ficado com saudades daquilo que deixou para trás, nem da terra nem da família.
Quis o destino que fosse morar para casa do Torres, no lugar de Talho. A minha mãe foi crescendo lado a lado com os filhos da família do Torres e com eles ganhando grande afinidade. Uma das filhas, a Alzira, era pouco mais ou menos da idade da minha mãe e, criadas juntas, ficaram amigas para a vida. Quando esta se casou com o Sr. Porfírio e foi morar para o Rio perderam o contacto estreito que vinham mantendo desde crianças, mas quando a sua filha Maria quis aprender a arte de costureira as coisas voltaram ao que eram. Era comum ver em minha casa a Maria, a sua mãe e alguma das irmãs. E era também usual nós irmos até casa da «Maria do Rio» por uma ou outra razão, qualquer desculpa servia.
Macieira não é terra de muitas nogueiras e como nozes era coisa que se não vendia nas lojas, quem tinha nogueiras comia nozes e quem não tinha ficava a ver navios. Uma das coisas que nunca se apagou da minha memória tem a ver com nozes e nogueiras que havia na Casa do Porfírio. Quando lá ia de visita não saía sem algumas nozes no bolso. Os poucos luxos que naqueles tempos tínhamos no Natal eram uns poucos de figos secos, algumas nozes, pinhões e castanhas. E quase tudo isto era colhido na natureza ou oferecido por quem tinha essas árvores em casa. Ainda não tinha chegado a era dos Continentes e Pingos Doces.


Na minha última passagem pelo Lugar do Rio apontei a câmara fotográfica para essa casa, onde não entro há perto de 60 anos, gravei a imagem sem nenhum propósito em especial e todas estas recordações me vieram à cabeça, como se tivesse regressado ao passado.

domingo, 20 de outubro de 2013

Outros combates!


À primeira vista nada fora do normal se nota nesta foto. Parece exactamente aquilo que é, uma cena que corresponde à actuação de um rancho folclórico.
Mas prestando mais atenção aos pormenores começam a notar-se sinais de que afinal as coisas não são assim tão normais como parecem. A começar pelas pernas das raparigas que têm mais pelos do que deveriam. Em segundo lugar vê-se que a assistência é constituída apenas por negros e militares.
E a partir desses sinais começa-se a perceber que a cena se passa em África, que o mais provável é acontecer nas instalações de uma qualquer Unidade Militar e, por último, que as "mulheres" não passam de militares com trajes femininos. Desvendado o mistério, posso dizer-vos que se trata do «Rancho Folclórico do Batalhão de Artilharia 1886» e a actuação que a foto documenta aconteceu em Cabinda, nos anos de 1966 a 1968, época em que o batalhão lá esteve.
Como é fácil perceber, a guerra não eram apenas tiros, minas, mortos e feridos. Havia também algum divertimento para ajudar a esquecer as agruras da guerra e evitar que o estado psicológico das tropas atingisse o ponto de ruptura. Este tipo de programas recreativos, feitos com a «prata da casa» eram mais comuns do que possa parecer. Encenações de teatro, noites de fado, cantares ao desafio requeriam alguma habilidade e não dispensavam a presença feminina. Num mundo feito só de homens não havia outro remédio senão mascarar alguns que tinham mais jeito e se disponibilizavam para a coisa.
Eu assisti a alguns e posso garantir que a coisa funcionava. E nunca se recusavam os aplausos aos artistas que, em muitos casos, eram bem merecedores deles.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O Combatente de Cabinda!

Há dias, quando publiquei o perfil do Zé (Risso) Rodrigues, faltavam-me uma série de dados que entretanto consegui reunir. Além disso, consegui também entrar em contacto com um dos seus antigos camaradas da Companhia de Comando e Serviços (CCS) e pedir que me enviasse algumas fotografias, coisa que ele fez de imediato e das quais podem já ver aqui alguns exemplos.

Pessoal da CCS

Aquartelamento de Dinge


Camaradas em formatura "agranelada"


Camaradas fardados a rigor


Um pelotão completo


Aquartelamento militar em Cabinda

O Batalhão de Artilharia 1886 foi mobilizado pelo Regimento de Artilharia Pesada 2 (RAP2) de Vila Nova de Gaia e fez-se a concentração de todos os efectivos no Quartel de Viana do Castelo, antes de partirem rumo à África. Além da CCS, a que pertencia o Zé Rodrigues, constituíam o batalhão as Companhias 1543, 1544 e 1545.
Chegados a Cabinda dirigiram-se para o aquartelamento de Batasano (Zona de Buco Zau), no nordeste do Enclave e alguns meses depois foram transferidos para o de Dinge, um pouco mais para sul. Mas não foi este o destino final do batalhão que foi transferido para Belize, muito mais para nordeste do território, para aí continuar a sua comissão de serviço. Já próximo do fim da comissão regressaram a Dinge, de onde seguiriam mais tarde para Luanda, para preparar a viagem de regresso à Metrópole. Mas como não era coisa que se organizasse do pé para a mão, aí ficaram cerca de dois meses até, finalmente, entrarem a bordo do mesmo Niassa que os tinha levado para lá, dois anos antes.
Encontrei várias menções na internet a um morto da CArt 1543, mas não consegui reunir pormenores suficientes para saber se foi em combate ou se é um dos 7 mortos em acidentes, como mencionado no meu post anterior. Se conseguir confirmar ou completar esta notícia voltarei a este assunto mais tarde.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Ligação à «Liga dos Combatentes»!


NÚCLEO RIBEIRENSE
PARTICIPA EM ENCONTRO DE
COMBATENTES DA GUERRA DO ULTRAMAR

O Núcleo da Liga dos Combatentes da Vila de Ribeirão participou no I Convívio de Combatentes da Guerra do Ultramar, naturais da freguesia de Macieira de Rates, concelho de Barcelos, realizado em 29 de Junho, fazendo-se representar pelo seu presidente, tesoureiro e primeira vogal.
Recebidos pelo autarca daquela freguesia, coube ao núcleo ribeirense, em representação da Liga dos Combatentes, a honra de presidir às cerimónias.
Convidado a tomar a palavra, o Presidente do Núcleo de Ribeirão agradeceu antes de mais em nome do Núcleo e da Liga dos Combatentes o convite para estarem presentes, dizendo ser uma honra presidir a uma cerimónia solene com um significado simples mas objectivo, conciso, patriótico e de relevo social.

O Picoto hoje!


Tanto quanto me consigo lembrar, o Picoto era um dos lugares mais pobres de Macieira. Pelo que se vê nesta foto, as coisas parece terem mudado para melhor. O caminho que subia do Lobar para o Picoto era pouco menos que intransitável e não entrava em Negreiros seguindo o trajecto actual. Rasgado em cima de penedos que afloravam à superfície pelas rodas dos carros de bois chapeadas a ferro, não era de molde a grandes passeatas. Só por ali passava quem a isso era obrigado.
Há muito, muito tempo, há quem diga que viveram ali naquela grande casa, ou noutra que a precedeu, a primeira família de macieirenses. Até pode ser verdade, mas não temos provas para o afirmar.

domingo, 13 de outubro de 2013

Macieira em 1950!

Aqueles que vão ler estas linhas não poderão lembrar-se daquilo que aqui vou referir. E os que se lembram não o vão ler, pois não se dão bem com os computadores nem com nada que tenha a ver com as novas tecnologias.
Quer isso dizer que não devia dar-me ao trabalho de o escrever?
Claro que não, pois se o não fizesse nunca ninguém saberia como era a nossa terra na primeira metade do Século XX. É assim que se faz a história, escreve-se hoje para ser lido e apreciado daqui a muitos anos. Hoje talvez ninguém ligue muito a estas coisas, por estarmos ainda muito perto dos acontecimentos, mas os filhos dos vossos filhos, a viver num mundo completamente diferente, vão gostar de saber como era a vida dos seus tetravós.


Não sei a data exacta, mas foi por volta do ano de 1955 que Macieira viu a luz eléctrica pela primeira vez. Agora quero que imaginem como é que os alunos da escola primária estudavam ou faziam os trabalhos de casa nos longos e escuros dias de inverno. Aqueles que pertenciam a famílias mais abastadas sempre teriam direito a um candeeiro a petróleo igual ao que vêem na imagem acima. Ao fim de algumas horas de utilização, a chaminé de vidro ficada toda defumada e era preciso lavá-la com água e sabão para tirar partido de maior luminosidade. Quanto ao combustível era só dar um pulinho à Venda do Sr. Campos e comprar um ou dois quartilhos que custavam apenas alguns tostões. Poluente e muito era com toda a certeza, mas nesse tempo ninguém se preocupava com esses pormenores.


Nas casas onde o dinheiro era mais escasso (como a minha, não tenho vergonha nenhuma de o dizer) o remédio era contentarmos-nos com uma candeia como esta que aqui vêem. Cada um tinha a sua e carregava com ela para qualquer lado que fosse, pois a sua capacidade de iluminação não cobria mais que um metro quadrado. Para estudar o livro de História ou Geografia era preciso pô-la quase debaixo do nariz, com o fumo negro que ela soltava a entrar pelas narinas adentro. Nada saudável como se pode imaginar.


E a estrada que, partindo das Fontaínhas, atravessa a nossa freguesia e vai até à sede do nosso concelho, não fazia a mínima ideia do que é o alcatrão. Também, na verdade, não fazia grande diferença uma vez que não havia automóveis para a usar e para os bois ou cavalos que puxavam os carros que por lá transitavam era muito melhor assim. Cada vez que chovia a enxurrada arrastava o saibro para as valetas deixando à vista o cascalho que formava o lastro da estrada. E depois lá vinha o cantoneiro de carrinho de mão, pá e enxada para repor as coisas no seu lugar.
Mais ou menos na altura em que foi electrificada a freguesia, foi também alcatroada a estrada até Barcelos e inaugurada a carreira, feita pela «Auto Viação Costa & Lino» de Parada, entre Macieira e Barcelos, mas só nos dias de feira. Nos outros dias, as mercadorias eram transportadas em carros de bois ou carroças de burros e cavalos. A rapaziada nova fazia-se transportar nas suas bicicletas e anunciava-se com o som da indispensável corneta montada no guiador da sua bicicleta. Lembro-me que havia toques personalizados e verdadeiros artistas com essas cornetas.


Disse que não havia automóveis em Macieira, mas vejo-me obrigado a rectificar a minha afirmação, pois na verdade havia dois automóveis, embora a sua utilização fosse bastante restrita. Este que vêem acima era pertença do Dr.João Alves e valeu-me uns valentes puxões de orelhas e umas bem assentes palmadas nos fundilhos das calças, porque cada vez que tinha oportunidade entretinha-me a esvaziar-lhe os pneus e nunca faltava quem me denunciasse.


O segundo automóvel, de que não lembro nem a marca nem o modelo, mas que era sensivelmente igual à imagem de cima, pertencia ao «Manel do Velho» e era o táxi da nossa terra. Quando chegou o dia de ir a Barcelos fazer o exame da "Quarta Classe" metemos lá dentro quase metade da turma e ... ala que se faz tarde. Os nossos pais fizeram uma vaquinha para pagar o serviço e para nós que nunca tínhamos entrado numa dessas máquinas, foi uma festa.

sábado, 12 de outubro de 2013

Combatentes - Viriato Barbosa!

Nome - António Viriato Barbosa da Silva Pereira
Nascido em - 9 de Novembro de 1947
Alistado em - 29 de Julho de 1968
Ramo das F.A. - Exército
Especialidade - Escriturário
Matrícula - 84687/68
Posto - 1º Cabo
Mobilizado em - 8 de maio de 1969
Destino - Angola
Unidade - Batalhão de Caçadores 2872 / Companhia CCS
Transporte - Navio Uíge
Regresso - 12 de Agosto de 1971
Transporte - Navio Niassa
Mortos na Companhia - 1
Mortos no Batalhão - 10

O Batalhão de Caçadores Nº 2872 embarcou para Angola em 8 de maio de 1969. O paquete Uíge não era nada comparado com o Infante D.Henrique ou o Príncipe Perfeito, mas era ainda assim um dos melhorzinhos dedicado ao transporte de tropas. Mas como diz o ditado - no melhor pano cai a nódoa - e o Uíge não se deu bem com a travessia do Equador e avariou. Nada de mais nem que afectasse directamente os "passageiros", a não ser um aumento dos dias de viagem. Mas acredito que ninguém estivesse com pressa de chegar a Angola e meter-se numa guerra para que não se tinha oferecido como voluntário.
Além da CCS, a que pertencia o Viriato, compunham o Batalhão as Companhias de Caçadores Nº 2504, 2505 e 2506. Cada uma delas exerceu funções diferentes, lutou em teatros de guerra diferentes, mas andaram de lado para lado, ocupando 3 zonas diferentes, durante a comissão, mantendo-se as quatro companhias relativamente próximas.
Não há muita coisa publicada na internet sobre este batalhão, mas mesmo assim duas das Companhias têm um blog aberto onde vão publicando algumas notícias e fotografias dos convívios anuais que realizam. Vou deixar aqui os links para quem estiver interessado em dar uma vista de olhos.
Companhia de Caçadores 2504 - http://ccac2504.blogspot.pt/
Companhia de Caçadores 2505 - http://ccac2505.blogspot.pt/
O batalhão embarcou de regresso à Metrópole, no navio Vera Cruz, e chegou a Lisboa no dia 1 de Julho de 1971. Por fazer parte da comissão liquidatária do batalhão, o Viriato ficou retido em Luanda não tendo embarcado com os camaradas. Supostamente, regressaria mais tarde de avião, mas como tardava em arranjar lugar nos aviões que viajavam sempre "à pinha", acabou por regressar a Lisboa a bordo do Niassa, o mais piolhoso dos navios que se dedicavam ao transporte de tropas.


O primeiro ponto de paragem do Batalhão 2872 foi em Luanda. Ficaram aquartelados na zona do Grafanil (marcado no mapa com o nº 1) por um curto período, mas mesmo assim não se livraram de entrar em funções e dar apoio às outras forças que já estavam no terreno. Daí partiu para o ponto mais a sudeste de Angola, Coutada de Mucusso (marcado no mapa com o nº 2) que acredito deve ter sido o ponto mais sossegado de toda a comissão. E já com um ano de Angola, foram enviados para o Leste, Lucusse Marcado no mapa com o nº 3) onde completaram a comissão regressando a Luanda para embarque de regresso

Imagem de N.Senhora numa capelinha construida
no tronco de um embomdeiro, no Grafanil.

Imagem encontrada na internet que mostra
a Coutada de Mucusso, mas acredito que
seja uma imagem actual e não daquele tempo


Mapa da Zona Leste que mostra
a posição exacta de Lucusse e Lumbala
onde a Marinha tinha a sua Base.


Como toda a gente sabe, o Rio Zambeze nasce em Angola e vai desaguar a Moçambique. Onde houvesse uma grande zona de água era certo e sabido que a Marinha e, em especial, os Fuzileiros tinham que estar presentes. E assim acontecia no Zambeze, tanto em Angola como em Moçambique. Com a Base na zona da Lumbala/Chilombo era fatal que acabassem por cruzar-se, no desempenho das suas funções, com as forças do Exército e foi isso que aconteceu com o pessoal do Batalhão 2872, tal como descobri ao ler um dos blogs cujos links deixei acima.