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sábado, 2 de abril de 2016

Almas penadas e cães danados!


Já que os combatentes não aparecem para me ajudar a preencher estas páginas, vou contar-vos mais uma história verídica que se passou comigo, aí pela altura em que eu tinha 10 anos de idade e que tem a ver com almas penadas e outras coisas que tais.
Com 6 anos e meio de idade eu ia todos os dias a pé para a escola de Courel, onde frequentei a 1ª Classe, por falta de lugar na Escola da D. Alexandrina do Couto. Como podem imaginar, nos meses de inverno era ainda de noite quando saía de casa e me fazia ao caminho pelos Eiteirais fora. Isto para dizer que eu não era de ter medo e andava na rua, de noite ou de dia, sem o mínimo problema.
Mas vamos lá à história que vos quero contar. Dizia-se que na Pedra Fita apareciam bruxas, à meia noite, quando era maré de Lua Cheia. E onde há bruxas, anda também o mafarrico e outras entidades da mesma família. Sabendo isto, cada vez que passava na Pedra Fita, depois do sol pôr, eu olhava por baixo do bigode para um e outro lado da estrada, a ver quando via uma dessas criaturas passar montada na sua vassoura. Feliz ou infelizmente, nunca tive o prazer de um tal encontro.
Como sabem, a minha mãe era a costureira mais reclamada da freguesia e não havia sábado (à noite) que não fosse preciso ir levar uma peça de roupa acabada à pressa, por vezes já à luz do candeeiro de petróleo. para uma qualquer lavradeira estrear na missa do dia a seguir, domingo. Umas vezes era para Gueral, outras para Chorente e até para Courel. Como as minhas duas irmãs mais velhas já funcionavam como ajudantes da costureira-mãe, era a mim que cabia a tarefa das entregas.
Um certo dia calhou-me ir a Gueral, aldeia da Ribeira, lugar que fica quase a chegar ao S.to Amaro de Chorente. Saí de casa ao escurecer e enquanto fui e regressei era noite cerrada quando passei pela Pedra Fita. Como de costume, deitei o rabo do olho para ambos os lados da estrada e não vi nada. Andados uns metros senti uns passinhos miúdos atrás de mim. Parei, virei-me para trás e vi um cão magricelas, de perna alta, que trotava atrás de mim. Quando parei ele parou também. Recomecei a caminhada e ele toc...toc...toc... sempre atrás de mim. Parei de novo e ele parou também. Aí comecei a ficar nervoso e a recordar todas as histórias de lobisomens que já tinha ouvido.
Comecei a assobiar para espantar o medo e fui andando até chegar ao cruzamento com o caminho que desce para a Gandarinha e a azenha do Tio Avelino Mariano. Aí chegado, abaixei-me de repente, apanhei uma pedra na valeta e virei-me para acertar com ela no cão cujos passinhos eu continuava a ouvir ecoar na minha cabeça.
Mas quando virei os olhos para o lado de Gueral, dali atá à Pedra Fita, não havia nada nem ninguém. Nem cão, nem bruxa, nem o diabo que os carregue. Acelerei o passo até chegar a casa e contei o acontecido à minha avó. Ela benzeu-se e disse apenas - Vade Retro Satanás!