Para qualquer assunto relacionado com os combatentes podem contactar-me através do e.mail «maneldarita44@gmail.com»

quinta-feira, 27 de março de 2014

O Galhinho!

Hoje reservei o meu dia para investigar este macieirense que faz parte da lista dos combatentes. Como ele é já falecido não é possível recolher a informação necessária para completar o seu perfil. Encontrei na internet algumas referências à Companhia de Artilharia a que se supõe que ele pertenceu e iniciei uma série de contactos para tentar obter mais informações. Enviei alguns e.mails, já recebi uma resposta e espero, em breve, poder publicar a história completa.


Tinha recebido a informação que o Batalhão 525 passou a comissão na zona de Quipedro e Bessa Monteiro. Nas notícias encontradas na net fala-se em Micula e Catete e, provavelmente, Nambuangongo também. Não é grande coisa, mas é melhor que nada.

quarta-feira, 26 de março de 2014

A porta de entrada de Angola!


Quem combateu na Guerra Colonial em Angola é quase certo que reconhecerá esta imagem. Do porto de Luanda para aqui e daqui para todos os cantos de Angola onde havia actividade da guerrilha que lutava pela libertação do colonialismo.
Muitos milhares de soldados portugueses entraram e saíram por esta «Porta de Armas» do quartel do Grafanil que ficava uma dúzia de quilómetros fora de Luanda. E felizes daqueles que, depois de uma comissão de serviço com maior ou menor número de incidências, regressaram a este local, pois isso quis dizer que não tinham perdido a vida naquele inferno que tantas vidas da juventude lusitana ceifou, durante os 14 anos que a guerra durou.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Ferramentas da guerra!


A grande maioria dos ex-combatentes não conhecem outra arma a não ser a G3. E talvez tenham visto, ouvido ou apanhado algumas Kalashnikov (AK47) ao inimigo durante as operações em que participaram. Outros, mais infelizes, sentiram na pele a mordedura das balas desta arma usada pelos ditos "turras", mas podem considerar-se com sorte aqueles que hoje estão vivos para ler esta notícia.
Muitos dos soldados portugueses que foram enviados para o Ultramar mal sabiam manusear a G3. Durante a instrução, uma rápida passagem pela carreira de tiro, meia dúzia de munições distribuídas a cada um e isso foi tudo o que lhes foi ensinado até se verem no meio da bagunça, em terras africanas. Aí acontecia aquilo que é costume dizer-se nestas situações - a necessidade aguça o engenho - e cada um desenrascava-se o melhor que podia.
Também houve alguns combatentes que conviveram com a nossa G3 durante dois anos, que embarcaram e desembarcaram em Lisboa, sem nunca terem disparado um tiro. Aliás, a guerra não é diferente de outros acontecimentos da vida, nela há os que morrem, os que quase morrem de medo e ficam afectados para toda a vida, os que escapam ilesos física e psicologicamente e há ainda os que passam por ela sem lhe sentir os efeitos.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Morri e fui para o céu!

Um pouco triste por ver tanta gente de lágrima no olho por causa da minha partida, apresentei-me lá em cima pronto para o que desse e viesse. Depois de ouvir a versão dos católicos, das testemunhas de Jeová assim como de muçulmanos, hindús e budistas de um paraíso que nenhum terráqueo, depois de morto, se dignou vir contar-nos como é, eu estava cheio de curiosidade para ver qual destes crentes andaria mais próximo da realidade. Aquilo devia ser engraçado!
Inferno eu já sabia que não existia, pois isso não passa de uma invenção da padralhada para afastar a gente do pecado. Pecado que é, ao fim e ao cabo, tudo aquilo que gostamos de fazer ou nos dá algum prazer. Inferno temos nós nesta vida, convivendo com pessoas que não prestam, com doenças que aparecem de rompante e estragam a vida a qualquer um, com dificuldades de todos os tipos que nos tornam a vida nisso mesmo, um verdadeiro inferno.
Enquanto andei cá por baixo, eu ouvi as mais mirabolantes versões do que seria a outra vida, a eterna, mas nenhuma me deixou muito convencido. Sentado à direita de Deus Pai, por toda uma interminável eternidade, parecia-me uma incrível seca. Andar por ali a entoar melodias celestes na companhia dos anjinhos também não me parecia vida para mim, pois nunca fui grande amante da música, seja ela de que tipo for. Deitado à sombra de alguma árvore frondosa, a dormir uma soneca, agradava-me mais, mas será que haveria árvores no céu. Bem e eu também não poderia passar a vida toda a dormir.
E as pessoas? Quantas seriam, uma vez que o mundo é mundo há milhões de anos e morrem pessoas aos milhares todos os dias? E a questão da Língua? Do norte, do Sul, do Este e Oeste, das Áfricas e Américas, da China, da Índia e da Rússia, como se entenderiam todos? Não acredito que fosse por gestos! Aquilo devia ser pior que Nova Iorque em hora de ponta. Espero bem que me consiga fazer entender!


Mas, bem, voltemos ao princípio da história. Segundos depois de fechar os olhos vi-me num espaço vazio e sem ninguém para me dar as boas-vindas ou a quem perguntar o que deveria fazer de seguida. Não havia casas, nem árvores, nem rios, nem montes, mas especialmente não havia ninguém em lado nenhum. Um autêntico deserto. Por onde andaria toda a gente?
Não me podia sentar, pois nem um miserável banquinho havia, mas também não sabia para onde ir nem o que fazer. Que estranho sítio onde eu fora parar. Pus-me a pensar, o que era a única coisa possível numa situação daquelas, esperando que alguma ideia luminosa me indicasse um caminho. De repente a realidade atingiu-me com tanta força que quase a senti fisicamente. Então os mortos não abandonam o corpo na Terra sobrando apenas o espírito? E o espírito não é invisível? Ora aí está, assim se explica a razão de eu não ver ninguém em lado nenhum.
Compreendi de repente que aquilo que eu imaginara, um mundo onde todas as raças e credos conviviam em paz e harmonia, em que as vestimentas coloridas de uns contrastavam com a nudez ou a simplicidade dos trajes de outros, onde novos e velhos andavam lado a lado com a mesma desenvoltura, onde homens e mulheres ainda crianças, jovens e velhos tinham todos a mesma sabedoria e falavam dos mesmos assuntos com desenvoltura, esse mundo não existia lá em cima.
As pessoas, pura e simplesmente, não se viam nem falavam umas com as outras. Depois de morto, não havia nada que fazer, nada por que lutar, nada que cada um pudesse fazer diferente do que fazia o vizinho do lado. Ao chegar a esta conclusão, comecei a pensar que não me iria dar muito bem num sítio como aquele. Que poderia fazer para mudar aquele estado de coisas? Não me restava outra alternativa a não ser pensar. Talvez, quem sabe, Deus (que continuava invisível como sempre) me enviasse uma luz.
E, de súbito, essa luz atingiu-me mesmo em cheio até me fazer doer os olhos. Alguém acendera a luz do meu quarto e acordei em sobressalto.
Tudo não passara de um sonho!

quarta-feira, 5 de março de 2014

Sobre as ondas do mar!


Tenho quase a certeza que mais de metade dos Combatentes de Macieira, seja na ida ou na volta, viajaram a bordo do Vera Cruz para atingirem o «Teatro de Guerra» a que a sorte os destinou. Eu próprio tive essa sorte também na viagem de regresso da minha segunda comissão em Moçambique, no longínquo ano de 1968. Não sei o dia ao certo em que data zarpamos de Lourenço Marques, mas recordo que no dia 9 de Março estávamos em Luanda, onde festejei o meu 24º aniversário.
Pouco mais de uma semana depois entrávamos na barra do Tejo e desde o convés do navio avistei pela primeira vez a Ponte Salazar que ainda não existia quando saí com destino a Moçambique, em 1965. Dois meses mais tarde já tinha dito adeus à vida militar e à Guerra Colonial e entrava na vida civil para sossego da família e de mim próprio.
Entre os diversos navios que foram destinados ao transporte de tropas, este paquete só era batido pelo Infante D.Henrique que era um verdadeiro paquete de luxo, no qual regressei de Moçambique no fim da minha primeira comissão de serviço. Foi uma verdadeira viagem de turismo, com paragem na cidade do Cabo, nas Canárias e na Madeira, além de Luanda que era paragem obrigatória em todas as viagens de transporte de tropas. Mas em comparação, por exemplo, com o Niassa que era um autêntico ninho de ratos, o Vera Cruz era uma primeirinha e sorte tiveram todos aqueles que depois de uma dura comissão subiram a bordo para viajar até Lisboa, dizendo adeus à guerra da melhor forma.