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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O Batalhão do Gabriel!

Eu e o Gabriel Moreira estivemos em Moçambique na mesma altura. Ele no Exército e eu na Marinha fomos encontrar-nos, por mero acaso, numa pequena povoação do Lago Niassa chamada Cobué, na segunda metade do ano de 1967. Ele prestava serviço numa das companhias do Batalhão de Caçadores 1891 e eu na Companhia de Fuzileiros Nº 8.
Um dos camaradas de batalhão do Gabriel enviou-me hoje esta fotografia e decidi publicá-la aqui com uma pequena história em que fui um dos actores.


Passei uns tempos na cidade de Nampula para tratamento médico e no regresso fui incorporado numa coluna de abastecimento que fazia o trajecto entre Vila Cabral e Metangula, povoação onde estava acantonada a minha Companhia. A coluna era formada por cerca de 30 camiões civis a que um grupo de combate do Batalhão 1891 dava protecção. Cerca de 120 kms numa estrada de terra batida cheia de buracos e em tempo de guerra não é pêra doce, como se pode imginar.
Houve avarias e acidentes de toda a espécie, durante os quatro dias em que viajei com a coluna. A meio do quinto dia e depois de uma manhã calma em que fizemos 15 kms sem problemas, chegamos a uma pequena ponte de madeira que os camiões tinham que atravessar e que tinha sido destruída pelo inimigo. Demoramos horas a tentar construir um atalho para os camiões passarem, pois por cima da ponte era impossível e não tínhamos meios para reconstruí-la.
Enquanto decorriam esta manobras, um grupo de soldados decidiu descer até um ponto do riacho, a montante da ponte, para encher os seus cantis. A eles juntei-me eu e um outro camarada fuzileiro que também viajava comigo. Constituíamos um grupinho de seis homens que em fila indiana ia descendo em direcção à água. De repente, uma tremenda explosão e fomos todos projectados pelo ar. Um dos soldados tinha accionado uma mina anti-pessoal ali colocada pelos guerrilheiros da Frelimo.
Pelos gritos de dor que começámos a ouvir logo de seguida, percebemos que havia feridos como resultado do rebentamento da mina. Com as cautelas necessárias para não sermos surpreendidos por algum grupo inimigo que andasse pelas redondezas, prestamos auxílio aos dois feridos, um grave e outro ligeiro, que resultaram da explosão.
Esperamos até ao pôr do sol que um helicóptero viesse buscar os feridos, coisa que não aconteceu, o que se compreende pois havia mais pedidos de socorro que helicópteros à disposição. Como o ferido grave corria risco de vida, acabámos por ser socorridos por uma patrulha do batalhão do Gabriel, vinda de Nova Coimbra, uma povoação a cerca de 20 kms de distância do outro lado das montanhas, e num Unimog que traziam com eles carregamos os dois feridos e, já noite escura, rumámos a Metangula, onde chegámos sem mais percalços e entregámos os feridos ao cuidado da equipa médica da Marinha.

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