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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A professora ...ina!

Fiz 6 anos no dia 9 de Março. Seria natural que no dia 7 de Outubro desse ano tivesse entrado para a Escola Primária de Macieira para frequentar a 1ª Classe. Mas o facto é que isso não aconteceu. A professora Alexandrina não aceitou a minha matrícula alegando que não tinha ainda feito 7 anos. Não sei se foi por ter excesso de alunos ou se apenas por birra. A minha mãe tinha uma ligação bastante estreita com a D.Josefina, professora da vizinha freguesia de Courel e calhou em conversa comentar com ela o acontecido.
- Oh, Rita, não seja esse o problema. Manda-me o rapaz que eu faço-lhe aqui a 1ª Classe e depois ele continua em Macieira no próximo ano.
Claro que a minha mãe ficou radiante com a solução, sem imaginar que isso não serviria para nada. A mim tocou-me a pior parte. Não conhecia ninguém em Courel, a começar pela própria professora, o caminho era longo e solitário e custou um bocado a habituar-me àquele sacrifício. Hoje, ninguém imaginaria possível mandar um puto de 6 anos e meio, a pé pelo meio daquelas bouças dos Eiteirais, numa caminhada de cerca de 3 quilómetros. Mas, como tudo na vida, a continuação fez-me gostar daquela escola e da professora e estranhei bastante no ano seguinte quando mudei para Macieira.


Encontrei esta foto no Facebook e decidi trazê-la para aqui, porque é exactamente igual àquela em que me sentava na Escola de Courel. Lembro-me como se estivesse lá sentado agora. Fiquei sentado na fila lateral, do lado sul, na segunda carteira a contar da frente. O meu colega de carteira era o Licínio da Aldeia com quem vivi algumas aventuras e tive algumas arrelias. No centro da carteira pode ver-se um tinteiro que continha tinta permanente e servia para molharmos a pena e escrever as letras do abecedário no caderno de duas linhas (caligrafia). A maior parte dos leitores não saberá sequer o que isso de pena e caderno de duas linhas significa, imagino eu.
Num belo dia, o meu colega de carteira, sem intenção acredito eu, salpicou-me o caderno de caligrafia com uns pingos de tinta. Para não ficar no prejuízo molhei a minha pena e sacudi-a em cima do caderno dele. E começou ali uma guerra que acabou comigo a entornar-lhe o tinteiro em cima. Depois aconteceu aquilo que era habitual nessas situações, uma sessão de bolos repartida entre os dois, pois a D.Josefina, como qualquer professora que se prezava de o ser, tinha a sua palmatória guardada para essas ocasiões, seguida de uma zanga com o Licínio que durou alguns dias.
Quando já estava a conhecer as pessoas e a habituar-me ao seu convívio, acabou-se o ano lectivo e vieram as férias grandes. E depois das férias a matrícula na escola da professora Alexandrina, em Macieira. Como tinha terminado a 1ª Classe com aproveitamento esperava entrar na turma da 2ª Classe. Engano meu. A professora apressou-se a dizer que não sabia nada disso nem queria saber, era o meu primeiro ano com ela e seria na 1ª Classe que me matricularia. E de que serviria não concordar com ela? Naqueles tempos a sua vontade era soberana e não se ganhava nada em remar contra a maré.
E assim tive uma 1ª Classe duplicada, com um ano da professora Josef...ina e outro da professora Alexandr...ina. Até nisso parece ter havido a mão do destino. E talvez tenha servido para eu ter sido um aluno acima da média nos anos que se seguiram. Não se perdeu tudo.

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