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sábado, 28 de dezembro de 2013

A Promessa!


Há muitos, muitos anos, apareceu por Macieira uma senhora que procurava um homem capaz de cumprir uma promessa feita pelo seu marido que tinha morrido sem a conseguir cumprir. Oferecia uma pequena fortuna, umas dezenas de contos de reis, ao voluntário que se apresentasse pronto para a tarefa, mas nem assim houve quem se oferecesse. Pediu ajuda ao abade da freguesia, depois de se ter confessado e contado a sua história de fio a pavio, para que ele intercedesse junto dos seus paroquianos explicando-lhes que nada de mal poderia acontecer a quem concordasse em fazer aquilo que ela pedia. Nem assim, nada, não houve um macieirense que desse um passo em frente e se aventurasse a receber a choruda recompensa oferecida pela viúva. Soube-se depois que ela já tinha tentado a sua sorte noutras freguesias do concelho, mas sempre sem sucesso.
Mas afinal de que se tratava? O que teria que fazer o interessado e que assusatva todos os possíveis candidatos?
Ora vamos lá repetir a história que a velha senhora contava e satisfazer a vossa curiosidade. Segundo ela o seu marido sofrera de uma grave doença e desesperado por melhoras que tardavam em aparecer fez uma promessa a S.Tiago de Compostela para que ele o salvasse. A promessa consistia em viajar, desde a freguesia em que morava até à Catedral de S.Tiago, dentro de um caixão, num carro puxado por cavalos. Na freguesia que estivessem a atravessar ao sol-pôr, em cada dia de viagem, deviam pernoitar na igreja paroquial, com o caixão aberto e o "morto/vivo" lá dentro em exposição como se de um verdadeiro cadáver se tratasse. Aconteceu que, de facto, se curou, mas acabou por morrer num acidente antes de ter podido cumprir a promessa feita ao santo.
Com a consciência pesada pelo segredo que carregava contou ao seu confessor a promessa feita pelo marido e o receio que tinha de ele não poder entrar no céu por causa do não cumprimento do que tinha prometido. O padre disse-lhe que, se acreditava que cumprindo a promessa do marido ele veria abrirem-se-lhe as portas do céu, o fizesse sem problemas, pois daí não viria mal ao mundo. Como penitência adicional disse-lhe que devia entregar uma esmola significativa ao abade de cada freguesia onde pernoitassem, contando-lhe a história da promessa feita a S.Tiago e pedindo para que rezasse para que o seu falecido tivesse direito à bem-aventurança na vida eterna.
A viagem até Compostela ia custar caro, mas esse não era o problema, pois o seu marido deixara-lhe uma boa fortuna ao morrer. Começou a preparar a viagem, tratando de arranjar o carro, os cavalos e um cocheiro para os conduzir e olhar por eles no período de descanso. Encomendou o esquife e mais os restantes apetrechos habitualmente usados nestas cerimónias. Mas quando chegou a altura de escolher o candidato a deitar-se dentro do caixão deparou-se com um grave problema, não havia nenhum candidato.
E foi isso que a levou a Macieira e a fez andar de porta em porta, pedindo por Deus e pelas almas do purgatório, que aceitassem o seu pedido. Mas, tanto quanto me é dado saber, não houve ninguém de Macieira que se aventurasse a tal empreitada. Diziam todos que a viagem ainda fariam, mas dormir na igreja e dentro do caixão com velas acesas à sua volta, isso é que nem pensar.
Quero acreditar que, mesmo sem ter conseguido cumprir a promessa feita pelo seu marido, o santo os perdoou aos dois, pelo esforço que fez e pelas esmolas que ofereceu, e hoje se sentam ambos no céu, à direita de Deus Pai!

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