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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Criança sofre!


Pôr uma criança de 7 ou 8 anos fora da cama às 6 da manhã para ir à igreja rezar a «Novena do Menino» é coisa para fanáticos. Mas era essa a educação religiosa que o Sr. Abade de Macieira tentava ensinar aos seus paroquianos e os pais não se sentiam nada inclinados a desobedecer a esses ensinamentos. Nove dias seguidos, antes do Dia de Natal, muito antes de nascer o dia já se rezava na igreja da nossa freguesia, preparando a vinda do Menino Jesus.
- Avó, está tanto frio, deixa-me dormir.
- Vamos, toca a vestir que já estamos atrasados.
- Mas eu não quero ir à igreja.
- Isso nem se discute, tu ainda não tens querer. Mexe-te que já estão todos lá fora à nossa espera.
Depois de mais alguns protestos e umas quantas lágrimas derramadas na tentativa de sensibilizar o coração da avó, não havia outro remédio senão enfrentar o frio e a chuva miudinha daquelas noites de dezembro. Nas noites mais escuras tornava-se necessário recorrer a uma manada de palha de colmo para alumiar o caminho e evitar as poças de água que estavam por todo o lado.
A caminhada era ainda considerável para as curtas pernas de uma criança, mas finalmente a igreja estava já à vista e dentro de alguns minutos estariam lá dentro abrigados do frio e da chuva. No presépio não havia menino, pois Ele não tinha ainda nascido. Mas assim mesmo a curiosidade e a admiração pela obra feita era muita e fazia esquecer o sacrifício que fora sair da cama àquela hora. As rezas não duravam muito e o caminho de regresso a casa fazia-se ainda sem que o sol se tivesse dignado aparecer.
Só no dia de Natal terminava o "martírio". Na véspera, a Ceia de Natal e de manhã o levantar mais tardio, além das cerimónias mais animadas que se seguiam na igreja, rapidamente faziam esquecer as nove madrugadas em que fora preciso saltar da cama a toque de caixa.

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