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domingo, 30 de junho de 2013

Personagens de Macieira - O meu Padrinho!

Muitas coisas me ligam à família do Couto, especialmente à do Tio Manel do Couto que foi o meu padrinho de baptismo. Ontem, durante a romagem ao cemitério que fizemos no decorrer do convívio dos «Combatentes de Macieira», tirei uma fotografia à campa onde está sepultado. A primeira coisa que me chamou a atenção foi o nome. Claro que eu não sabia o se nome completo, mas supunha que se chamasse "qualquer coisa" do Couto. Pois estava redondamente enganado, porque o seu nome é Manuel dos Santos Oliveira.
De conversas ouvidas em casa dos meus pais sabia que esta família que tem várias ramificações em Macieira descendia do Tio João do Couto que morava em Penedo (espero que a memória me não atraiçoe, mas conto com os leitores para deixarem um comentário corrigindo-me se estiver enganado). A sua descendência espalhou-se por vários lugares de Macieira. Sem garantias de lembrar-me de todos sei, por exemplo que havia um António no lugar do Outeiro, um Zacarias e uma Alexandrina no Carreiro, um João em Penedo, além do Manuel (meu padrinho) no lugar de Travassos.
O meu pai, nascido em Gueral, trabalhou em casa do Loureiro quase até ir para a tropa. De lá mudou-se para casa do meu padrinho e por lá andou no trabalho da lavoura até se casar. Aí começou a nossa ligação e daí veio a causa de se tornar meu padrinho. Quando nasci, o meu pai comentou que me queria baptizar mas não sabia a quem recorrer para ser o meu padrinho. Isto chegou aos ouvidos do homem que, segundo o que se dizia à boca pequena, tinha mais afilhados em Macieira. Mandou-o chamar lá a casa e perguntou-lhe:
- Ouvi dizer que queres baptizar o teu filho.
- É verdade, Sr. Manuel.
- E que não sabes quem há-de ser o padrinho do rapaz.
- Também é verdade. Sabe, eu não gosto de incomodar ninguém nem andar a pedir favores.
- Pois não te preocupes mais com isso. Esse teu problema já está resolvido, vou ser eu o padrinho que precisas e com muito gosto.
- Fico-lhe muito agradecido.
- Mas há uma condição, tem que chamar-se Manuel como eu.
- Ora isso não é problema. Para mim António ou Manuel, João ou Joaquim, qualquer me serve.
- Pronto, então estamos combinados, fala com o padre e depois avisa-me da data.
Assim simples e directo, como ele gostava de ser em tudo que fazia. Quando chegava a Páscoa era uma alegria ver os afilhados a sair de casa dele com as maiores roscas que se viam em macieira. O padeiro fazia bom negócio com ele, tanto pelo tamanho das roscas como pela quantidade que lhe vendia. Ou seja, era uma festa para os afilhados e para o padeiro também.
Depois chegou a hora de entrar na Escola Primária e quem havia de ser a minha professora? Nem mais nem menos que a Professora Alexandrina, irmã do meu padrinho. A minha relação com ela nem sempre foi pacífica, mas não me posso queixar dos seus métodos de ensino. Acho que aprendi aquilo que tinha que aprender para continuar os estudos depois de ter feito o exame da 4ª Classe, em Barcelos.
Mais tarde fui estudar para um Colégio de Jesuítas, por influência do Padre José Novais, e nas férias acompanhava o David (filho do meu padrinho) para todo o lado. Mais velho que eu uns 4 ou 5 anos era assim uma espécie de patrono ou protector. Por vezes levava-me para casa dele e a sua mãe enchia-me o bandulho, sabendo que em casa dos meus pais havia mais bocas que comida.
Durante os anos que passei no colégio dos Jesuítas, o meu padrinho sofreu uma trombose que se repetiria algum tempo depois e acabaria por falecer no dia 6 de Dezembro de 1958 com 60 anos de idade. Depois disso a vida levou-me por outros caminhos e nunca mais vi nem tive qualquer ligação com a sua família. Ontem, sentei-me ao lado do David, à mesa do almoço, e tentámos recuperar um pouco do tempo perdido pondo as nossas memórias comuns em ordem.
E termino esta mensagem que já vai um pouco longa demais, deixando aqui uns recortes da fotografa que fiz no cemitério, contribuindo assim para que a sua memória prevaleça no tempo e no espaço.



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