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terça-feira, 27 de agosto de 2013

O preço de uma noiva!

Cada terra tem seu uso e cada roca tem seu fuso. Era assim que se dizia antigamente, porque agora nem há rocas nem fusos e a juventude de agora não tem sequer ideia do que isso era. Mas no tempo em que eu era criança e não havia ainda luz eléctrica em Macieira, nem alcatrão na estrada que vai para Barcelos, tosquiavam-se as ovelhas e espadelava-se o linho para dar trabalho à roca e ao fuso de onde saíam os fios para as roupas das gentes desse tempo.
Mas a conversa aqui é outra e não é dos fusos que quero falar, mas dos usos e costumes dos negros com quem nós, os combatentes, convivemos durante a Guerra Colonial. Embora me pareça que nas outras Províncias Ultramarinas (nome moderno dado às Colónias no tempo do Marcelo Caetano para camuflar o nosso papel de colonizadores) se passava o mesmo, vou falar de Moçambique por ser  o lugar onde vivi a minha guerra.
Homem quando atingia a maioridade e queria casar ia falar com o pai da pretendida e perguntava qual o preço que tinha que pagar para que lhe entregasse a filha. Habitualmente o preço era composto por 3 parcelas, uma em dinheiro, outra em bebida e a última em comida, destinando-se as duas últimas à grande "farra" do casamento que se seguia se o contrato chegasse a bom termo. Lembro-me que nos anos 60, quando eu lá estive, o preço de uma rapariga (virgem) era de 1.500$00, 1 pipo de 100 litros de vinho e uma vaca (elas eram tão pequenas e magras que mais pareciam cabritas).
Construir uma palhota com tecto de capim custava 200$00 e mais não era preciso para dar início a uma vida de casados. A vida continuava como dantes, ela a trabalhar na machamba, semeando amendoim, milho ou mandioca e ele na caça ou na pesca ou, de qualquer outro modo, à procura do que comer. E se o não arranjasse era encolher o estômago e rapar fome que era o remédio. Vida simples, tão simples como a de Adão e Eva quando Deus os pôs neste mundo.
Se acontecia de a mulher ser infiel ao marido, este pegava nela e ia entregá-la ao pai exigindo de volta o que lhe pagara por ela. Pelo menos o dinheiro, uma vez que o resto já tinha sido comido e bebido. E se desaparecesse fugindo com outro, seguia-se o mesmo procedimento, pois prejudicado é que o marido não podia ficar. Para a mulher um novo casamento significava um novo pagamento ao pai, mas o preço desce para metade.
Muitos dos combatentes portugueses, cujas hormonas os não deixavam ficar quietos, seguiram estes procedimentos para ter com quem dormir nos tempos que lá passaram. E alguns acabaram por trazê-las com eles no regresso e por vezes já com filhos ao colo.

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