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domingo, 18 de agosto de 2013

Os Vitorinos e o seu burro!

Morando nos limites a norte do Lugar do Outeiro tem toda a lógica que me ligasse aos miúdos que moravam na Gandarinha para as brincadeiras do dia-a-dia. Estavam neste caso os três filhos da viúva, conhecida pelo nome de Vitorina, que levava a vida negociando em tudo que lhe podia dar uns tostões de lucro para matar a fome aos filhos. António, Armindo e Zé Maria eram os seus nomes e juraria que todos mais novos que eu.
Um burrico e uma carroça tão pequenina que mais parecia um brinquedo eram as ferramentas de trabalho da mãe dos meus companheiros de brincadeira. Cada vez que o burro não estava atrelado à carroça era levado pelos caminhos para encher a pança. A caminho dos Eiteirais ou para os lados do Monte do Adro não faltava lugar onde ele encontrasse comida do seu agrado. E só voltava para a corte lá para o fim da tarde, quando tivesse o depósito bem atestado.
Os irmãos Vitorino, pelo menos os dois mais velhos, eram os encarregados de tomar conta do animal enquanto ele pastava. Eu e o meu irmão Quim, se me não engano nascido no mesmo ano do mais velho dos Vitorinos, juntávamos-nos a eles na esperança de podermos fazer uma corridinha montados no lombo do bicho. Era sabido que o mais certo era malhar com os ossos no chão, mas naquele tempo e com a idade que tinha, isso pouco me preocupava.
Entre muitas outras aventuras lembro-me de uma vez vir montado no burro a descer o caminho do Monte do Adro em direcção à azenha do Tio Avelino Mariano e ser projectado pelo ar para o meio de um silvado, depois de o burro ter levantado os quartos traseiros e disparado uma parelha de coices, sabe-se lá porquê. Depois de se ver livre do cavaleiro, desatou a correr até casa e nós não tivemos outro remédio senão correr atrás dele, comigo a friccionar as pernas e braços doridos e os outros a rirem-se à minha custa.

Quero ainda acrescentar que foi na carroça da Vitorina e na companhia dos irmãos que fiz a primeira viagem à Póvoa. Havia alguém da família que morava no Bairro de Nova Sintra, um bairro camarário que existia nos arredores da cidade, do lado nascente, a quem a viúva foi visitar. Eu, com a desculpa de fazer companhia aos meus amigos, lá consegui convencer a mãe deles a convidar-me para os acompanhar e foi uma festa que nunca mais se apagou da minha memória.
Dos três irmãos apenas o mais novo esteve no convívio do dia 29 de Junho. O Armindo vive e trabalha em França e o António não pôde estar presente. Acabei por encontrá-lo no dia da festa de S.Tiago e trocamos umas palavras sobre os dias longínquos da nossa juventude. Desde 1955, quando saí de Macieira para ir estudar, que o não via e, embora ele se lembre de muito pouco a meu respeito, gostei de o reencontrar.

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