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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A «Tragédia de Mopeia»!

O mais provável é não haver em Macieira, para além do Dino Fonseca, quem tenha ouvido falar de Mopeia ou do que lá aconteceu no dia 21 de Junho de 1969. O mais grave acidente acontecido durante a Guerra do Ultramar que vitimou 100 militares portugueses, 7 dos quais do Batalhão de Artilharia 2869 a que pertenceu o Dino, o naufrágio no rio Zambeze de um batelão carregado de tropas e viaturas que se deslocavam de Lourenço Marques para o Niassa.

Mezingo, o navio fluvial que participou no salvamento

Ainda não tive oportunidade de falar com o Dino sobre esta questão e também não sei em que circunstâncias havia homens do seu batalhão embarcados naquele batelão. Só ontem descobri que ele prestou serviço nesta Unidade do Exército que foi mobilizada para Moçambique, em Abril de 1969, pelo RAP2 e por isso trago este assunto aqui hoje. Segundo publicação no site UTW, deste acidente com o batelão do Zambeze, resultaram 7 mortos do Batalhão 2869 (2 da Cart 2495, 2 da Cart 2496 e 3 da Cart 2497), 2 dos quais ficaram sepultados no cemitério local de Mopeia e não tendo sido possível recuperar os cadáveres dos restantes 5 que o mais provável é terem sido devorados pelos crocodilos que infestam aquele rio.
Uma boa acção do governo sul-africano que tinha oferecido 30 viaturas ao Exército Português teve como resultado juntar, na capital Lourenço Marques, militares de muitas Companhias estacionadas no norte. Eles tinham vindo de propósito para conduzir e proteger as novas "máquinas" até as entregarem no comando das suas Unidades, em zona de guerra. O Comando Militar de Moçambique bem podia ter decidido enviar os carros de navio, até Nacala ou Porto Amélia, em vez de deslocar tanta gente e durante tantos dias para os levar por terra, mas só Deus sabe porque assim foi decidido.

Mezingo - Outra (melhor) foto

E depois foi a conjugação de vários factores, tais como o mau estado do batelão que fazia a travessia do rio, o excesso e má distribuição da carga que transportava, a cheia e enorme correnteza do rio e a hora tardia a que se iniciou a viagem (ao cair da noite) que levou ao desastre. Dos 150 homens embarcados e 30 viaturas militares pouco se salvou e esse pouco ficou a dever-se à ajuda de dois pescadores negros, os irmãos Campira, que pernoitavam numa ilhota no meio do rio e, apercebendo-se do acontecido, salvaram os homens que ficaram agarrados aos destroços e depois foram avisar as autoridades que enviaram o socorro possível.
Foi construído, em Mopeia, um cemitério de propósito para enterrar os militares mortos no naufrágio. Não sei ao certo quantos lá ficaram, mas sei que muitos não puderam ser lá enterrados por terem sido devorados pelos crocodilos ou outras feras depois de encalhar nas margens do rio. Morrer na guerra já era mau, mas morrer assim era aquilo que nenhum soldado português esperava. Sorte madrasta!

Manuel Cardoso, um dos sobreviventes
que conheço pessoalmente e de quem
ouvi o relato destes acontecimentos.

2 comentários:

Unknown disse...

Acabei de ler o seu texto e reconheci o meu tio na foto, Manuel Ventura. Gostaria de entrar em contacto com outros sobreviventes do acidente, poderia dar-me mais informações por mensagem privada? Agradeço desde já a atenção prestada.

Anónimo disse...

A legenda que menciona " O batelão S.Martinho " está incorrecta. O navio que aqui figura é o mesmo da figura seguinte navio fluvial " MEZINGO " . Esta informação incorrecta deveria ser corregida, pois leva a interpretações incorrectas como aconteceu num recente programa emitido numa Emissora de Televisão. O batelão S.Marinho era uma barcaça de transporte de veículos e em nada tinha semelhança com este navio.