Para qualquer assunto relacionado com os combatentes podem contactar-me através do e.mail «maneldarita44@gmail.com»

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Terras de Faria!


O Monte da Franqueira e o Castelo de Faria estão intimamente ligados à nossa freguesia de Macieira. A história de uns e outros misturam-se através dos tempos e é fácil encontrar referências a essa realidade em muitos documentos espalhados pelas bibliotecas do país. No entanto não é disso que vou falar, mas sim dos tempos em que o nosso abade, o P.e Manuel Marques nos punha a peregrinar a caminho do monte com a faixa da Cruzada ao ombro.
Depois da Primeira Comunhão a miudagem entrava para a Cruzada e depois era vê-los em tudo que era cerimónia religiosa. Festas, funerais, procissões, etc. não saíam da igreja sem a Cruzada. Eu também passei por essa fase e logo que os meus pais me sentiram com estofo para aguentar a caminhada até ao Monte da Franqueira, lá fui eu todo inchado no meio dos outros rapazes e raparigas. No segundo domingo de Agosto, dia que era ansiosamente esperado durante o ano inteiro, formava-se a peregrinação no adro da igreja e bem cedinho partíamos a caminho da maior festa religiosa do concelho.
Posso garantir que para miúdos dos 8 aos 10 anos era uma caminhada e tanto. De Macieira até ao Convento dos Frades, onde era preciso chegar antes das 10 horas da manhã, eram mais de meia dúzia de quilómetros e a última etapa pelo monte acima deixava todos com a língua de fora. E depois ainda era preciso incorporar a procissão que dos Frades ia até ao Santuário com o pessoal e bandeiras das ordens de todas as freguesias do concelho. Uma festa e tanto, para aqueles tempos.
E depois da Missa e sermão, sempre muito mais demorados do que a gente gostava, vinha a parte mais agradável da festa. O farnel que a mãe levava numa condensa ou num açafate de vime guardado para estas ocasiões, tinha sempre algo mais do que aquilo que se comia no dia a dia. E para desenjoar da broa de milho que se comia todos os dias, havia uma rosca de trigo e para sobremesa uma melancia (quando as magras economias chegavam para isso). Suponho que não há ninguém com idade próxima da minha que não tenha vivido esta experiência e que não se lembre bem disso, tal como eu me lembro.

Cruzada do Coração de Jesus da Póvoa de Varzim

E para terminar, uma pequena resenha da história do Santuário da Senhora da Franqueira e da lenda ligada à sua construção.


« Os conflitos entre D. Afonso Henriques e sua mãe D. Teresa, no período da formação do reino de Portugal, eram frequentes. D. Teresa, irmã da Rainha de Leão, a quem prestava vassalagem, favorecia a nobreza de Leão em detrimento da portucalense. Segundo documentos autênticos, D. Afonso Henriques estava acolhido no Castelo de Faria, situado num dos cabeços do Monte da Franqueira, com o objetivo de formar e preparar o exército com que defrontaria os apoiantes de sua mãe.
Egas Moniz, ciente de que tal confronto iria opor pessoas do mesmo sangue, apelou à bondade da Virgem Maria para que essa batalha nunca viesse a acontecer, prometendo que, se lhe fosse concedida essa graça, mandaria erigir uma ermida em sua honra como agradecimento. A batalha não se deu e Egas Moniz cumpriu a sua promessa.
Ignora-se a data exata da construção desta ermida. Contudo, porque estes acontecimentos remontam ao primeiro quartel do século XII, sem margem de dúvidas podemos afirmar, que ela foi edificada antes do reconhecimento oficial do Reino de Portugal.
A capela-mor, de assinalável valor artístico, é de estilo românico, sendo vagamente iluminada por uma rasgada janela e, como quase todas as construções medievais destinadas ao culto católico, está voltada a ocidente.
Três colunas de mármore e uma mesa de jaspe, trazidas do palácio de Collun-Ben-Cayla, em Ceuta, como espólio de guerra por D.Afonso, 1º Duque de Barcelos, e oferecidas a N.Senhora, constituem a relíquia histórica do Santuário que ao longo dos séculos foi sendo restaurado e aumentado até chegar àquilo que hoje podemos ver e apreciar no alto do monte da Franqueira. »

1 comentário:

fonseca disse...

Lembro-me bem desse tempo da cruzada, e então, quando tocava o sino, para um funeral, corríamos até à igreja para o fim termos direito a um "trigo"