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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Coisas velhas para novos recordarem!


Ao olhar para esta imagem consigo imaginar a minha avó (nascida 10 anos antes de acabar o Século XIX) com os joelhos dentro do caixão e debruçada sobre o lavadouro de pedra esfregando os trapos a que nós chamávamos roupa. Lavadouro largo onde cabiam várias mulheres ao mesmo tempo, aquilo era um esfrega-esfrega que nunca mais acabava. Ensaboar, esfregar, torcer, bater com a peça de roupa no lavadouro, passar por água, ensaboar de novo e por aí fora até expulsar toda a sujidade.
Nesses tempos ninguém tinha ainda ouvido falar de máquinas de lavar, nem tão pouco havia electricidade em Macieira para as fazer andar. E a palavra caixão, hoje em dia, só é ouvida nas casas funerárias em em dia de enterro, mas na época a que me refiro era uma peça fundamental para as lides domésticas. Não só para levar para a «Poça do Outeiro», para evitar meter os joelhos na lama, mas também para esfregar e encerar o soalho lá de casa quando era preciso. Recordo-me bem de cada «Semana Santa» em que o soalho da minha casa tinha direito a um tratamento de luxo para receber o «Compasso», no domingo de Páscoa.


A "serúdia", a planta que vêem a sair da parede, era usada pela minha avó para curar eczemas de pele, conhecidos entre nós pelo nome de "impingens" e que funcionava muito bem. Com os antigos o negócio das farmácias não era tão florescente como agora, pois eles sabiam recorrer à natureza para curarem muitas das suas mazelas. Por outro lado, o pouco dinheiro que cada um conseguia juntar mal dava para comida e essa é que era a prioridade das prioridades, tudo o resto se resolvia conforme Deus ou o destino o permitissem.
Estas memórias parecem coisa de loucos, especialmente para quem nasceu depois do 25 de Abril e viveu toda a sua vida num mundo «eléctrico, electrónico, dos computadores e telemóveis», e pode acontecer que alguém acredite que é invenção de quem não tem mais que fazer, mas garanto que não há nelas nada de ficção. Era assim a vida em Macieira na primeira metade do Século XX.

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