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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Macieiras e maçãs!

Eu sou doido por maçãs!
Não fosse eu nascido em Macieira, a terra que recebeu o nome da árvore mais antiga do mundo. Há dúvidas? Então de onde saiu a maçã que a Eva deu a trincar ao Adão?
Eu já corri meio mundo e comi maçãs de muita qualidade, mas comi maçãs em Macieira que nunca mais encontrei em lado nenhum deste mundo de Deus.


Perto da casa onde nasci, no Lugar do Outeiro, havia uma grande macieira que cobria todo o caminho. Não sei se o nome está correcto ou não, mas nós chamávamos «maçãs durazes» aos frutos dessa árvore. Elas nasciam aos cachos, que nem azeitonas numa oliveira, e mal cresciam um pouco começavam a cair astrando o chão por baixo da macieira. Não valiam grande coisa, mas enquanto não havia outras também se mastigavam. Depois de maduras até tinham um gostinho bom.


Lembro-me de outras a que nós chamávamos «pero-limão» e só assadas no borralho da lareira se conseguiam comer. E ainda outras que tinham o nome engraçado de «3 ao prato» que por serem tão grandes, dizia-se, três enchiam um prato. E as «peneireiras», quem se lembra delas? Não valiam um pataco. Quando maduras eram farinhentas demais e enquanto verdes deixavam um travo esquisito na boca. Nos tempos em que se praticava o desporto de correr à pedrada os colegas de escola (pela subida de Travassos acima e abaixo) eram uma maravilha como munições.


O quintal do Tio António do Couto era muito comprido e acabava num bico que se projectava em direcção às traseiras da nossa casa. E no último metro quadrado desse bico tinha uma macieira que era a coisa mais fantástica que já vi na minha vida. As maçãs que nasciam naquela árvore eram lindas como o sol e sabiam melhor que mel. O nome que lhe dávamos e que também não encontro em nenhum dicionário era «maçãs de rosa». Elas amadureciam muito cedo, antes de quaisquer outras, e eram uma tentação para os olhos. Por felicidade (minha) a macieira tinha nascido, ou fora plantada, num lugar a que quase ninguém tinha acesso. Logo que os primeiros calores da primavera a faziam florir, eu montava sentinela àquele lugar e esperava impaciente que as maçãs crescessem e amadurecessem até lhe poder ferrar o dente. E a impaciência era tanta que até mesmo meias-verdes marchavam.
Trepava ao muro, puxava um ramo da macieira e filava duas ou três enquanto o diabo esfregava um olho. Pratiquei aquele desporto durante anos e algumas vezes tive que dar à sola para não ser apanhado. No entanto algumas vezes fui reconhecido e apareceu em minha casa a respectiva queixa que fez com que a Tia Rita (a senhora minha mãe) me aquecesse o fundilho das calças com umas palmadas bem assentes.
Muitas vezes sonhei com aquelas maçãs e pensei se a tal macieira ainda lá existiria. Com as técnicas de enxertia que hoje existem valia a pena salvaguardar aquela espécie. Nos hipermercados, onde há mais variedade de escolha, tenho procurado algo que se assemelhe àquelas maçãs e a única que se aproxima é a «red delicious». À falta de melhor é essa que marcha!

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