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domingo, 27 de outubro de 2013

Combatentes - Manuel Silva!

Nome - Manuel Alves da Silva
Nascido em - 9 de Março de 1944
Incorporado em - 10 de Março de 1962
Ramo das F.A. - Marinha
Classe - Fuzileiros
Matrícula - 8079/62
Posto - Marinheiro
1ª Comissão:
Mobilizado em - 2 de Novembro de 1962
Unidade - Companhia de Fuzileiros Nº 2
Destino - Moçambique
Transporte - Avião da FAP
Regresso - 11 de Abril de 1965
Transporte - Navio Infante D.Henrique
2ª Comissão:
Mobilizado em - 15 de Outubro de 1965
Unidade - Companhia de Fuzileiros Nº 8
Destino - Moçambique
Transporte - Navio Niassa
Regresso - 20 de Março de 1968
Transporte - Navio Vera Cruz


A minha passagem pela guerra teve um pouco de tudo. Na primeira comissão, quando não havia ainda sinais da guerra que começaria apenas no fim do mês de Setembro de 1964, foram dois anos de autênticas férias na capital Lourenço Marques. Fazer serviço de rotina no aquartelamento, situado nos arredores da cidade, manter o físico em ordem e namorar tudo que fosse possível. Que se podia esperar de um jovem que ainda nem 20 anos de vida tinha completado?
Faltava pouco para terminar a comissão e regressar a Lisboa quando rebentou a bomba. Uma cena de tiros contra um Posto Administrativo no distrito de Cabo Delgado e umas rajadas de metralhadora contra uma Lancha de Fiscalização no Lago Niassa acabaram com a "dolce-vita" que durava há dois anos. Depois de recebida a ordem do Comando Naval demorou menos de 3 horas para um pelotão completo se apresentar no aeroporto e rumar a Vila Cabral, capital do distrito do Niassa. Tão séria era a ameaça, ou assim foi tomada pelo nosso governo, que até o Almirante Comandante Naval nos acompanhou nessa viagem.
A vila de Augusto Cardoso, mais conhecida entre nós pelo nome original de Metangula, não tinha mais que a Base da Marinha, um Posto Administrativo e uma Cantina que vendia aos habitantes da zona os bens de primeira necessidade, além de um amontoado de palhotas onde viviam umas poucas centenas de pessoas. Aí permaneci até ao fim de Janeiro de 1965 sem ter sentido quaisquer sinais de guerra. Se havia por lá alguns membros da Frelimo, eles faziam tudo para não se deixarem ver. Eles de um lado e nós do outro, vivíamos a nossa vida na paz dos anjos.


No dia 9 de Janeiro de 1965, a lancha de fiscalização Castor dirigiu-se a uma povoação costeira, junto da fronteira com o Tanganica (era assim que se chamava nessa altura), para uma acção de «busca e controlo» ordenada pela PIDE. Um guia nativo, uma secção de fuzileiros, composta por 9 homens, comandada por um oficial de baixa patente, a tripulação da lancha, composta de 6 homens, o comandante da Base da Marinha e um agente da referida polícia política eram as forças em presença naquela praia, nesse dia.
Com o guia e o agente da PIDE a abrir a marcha e os fuzileiros a garantir-lhes a segurança, e a lancha ainda aproada à areia da pequena praia, foi desencadeado um tiroteio que podia ter ditado a morte de muitos de nós. Dois ninhos de metralhadoras, estrategicamente colocados em pontos altos de frente para a margem do lago, se manejados por mãos experientes poderiam ter feito grandes estragos entre os 12 homens que se encontravam em terra. Felizmente não acertaram em ninguém e só na altura do reembarque, quando já ninguém contava com eles pensando que teriam fugido após as primeiras rajadas, acertaram dois tiros no nosso guia que não resistiu aos ferimentos. O Comandante achou que não íamos preparados nem valia a pena, pois o risco era grande, ir em perseguição dos "turras" e deu ordem de retirada.


A mesma secção de fuzileiros, numa acção semelhante alguns dias depois, abateu um negro que se pôs em fuga quando foi mandado parar. Carregava um grande fardo à cabeça e suspeitou-se que pudessem ser armas ou munições, afinal não passava de um grande cesto cheio de mandioca. Se tivesse obedecido à ordem, nada lhe teria acontecido.
Tanto quanto recordo e pelo que ouvi contar, foram estes dois negros as primeiras vítimas da guerra no distrito do Niassa, noroeste de Moçambique. Alguns dias depois fomos rendidos por um Destacamento de Fuzileiros Especiais e regressámos a Lourenço Marques para preparar a viagem de regresso a Lisboa. Em Outubro desse mesmo ano, eu estaria de regresso a Lourenço Marques para uma nova comissão de dois anos, mas isso é outra história que fica para contar mais tarde.

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