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domingo, 13 de outubro de 2013

Macieira em 1950!

Aqueles que vão ler estas linhas não poderão lembrar-se daquilo que aqui vou referir. E os que se lembram não o vão ler, pois não se dão bem com os computadores nem com nada que tenha a ver com as novas tecnologias.
Quer isso dizer que não devia dar-me ao trabalho de o escrever?
Claro que não, pois se o não fizesse nunca ninguém saberia como era a nossa terra na primeira metade do Século XX. É assim que se faz a história, escreve-se hoje para ser lido e apreciado daqui a muitos anos. Hoje talvez ninguém ligue muito a estas coisas, por estarmos ainda muito perto dos acontecimentos, mas os filhos dos vossos filhos, a viver num mundo completamente diferente, vão gostar de saber como era a vida dos seus tetravós.


Não sei a data exacta, mas foi por volta do ano de 1955 que Macieira viu a luz eléctrica pela primeira vez. Agora quero que imaginem como é que os alunos da escola primária estudavam ou faziam os trabalhos de casa nos longos e escuros dias de inverno. Aqueles que pertenciam a famílias mais abastadas sempre teriam direito a um candeeiro a petróleo igual ao que vêem na imagem acima. Ao fim de algumas horas de utilização, a chaminé de vidro ficada toda defumada e era preciso lavá-la com água e sabão para tirar partido de maior luminosidade. Quanto ao combustível era só dar um pulinho à Venda do Sr. Campos e comprar um ou dois quartilhos que custavam apenas alguns tostões. Poluente e muito era com toda a certeza, mas nesse tempo ninguém se preocupava com esses pormenores.


Nas casas onde o dinheiro era mais escasso (como a minha, não tenho vergonha nenhuma de o dizer) o remédio era contentarmos-nos com uma candeia como esta que aqui vêem. Cada um tinha a sua e carregava com ela para qualquer lado que fosse, pois a sua capacidade de iluminação não cobria mais que um metro quadrado. Para estudar o livro de História ou Geografia era preciso pô-la quase debaixo do nariz, com o fumo negro que ela soltava a entrar pelas narinas adentro. Nada saudável como se pode imaginar.


E a estrada que, partindo das Fontaínhas, atravessa a nossa freguesia e vai até à sede do nosso concelho, não fazia a mínima ideia do que é o alcatrão. Também, na verdade, não fazia grande diferença uma vez que não havia automóveis para a usar e para os bois ou cavalos que puxavam os carros que por lá transitavam era muito melhor assim. Cada vez que chovia a enxurrada arrastava o saibro para as valetas deixando à vista o cascalho que formava o lastro da estrada. E depois lá vinha o cantoneiro de carrinho de mão, pá e enxada para repor as coisas no seu lugar.
Mais ou menos na altura em que foi electrificada a freguesia, foi também alcatroada a estrada até Barcelos e inaugurada a carreira, feita pela «Auto Viação Costa & Lino» de Parada, entre Macieira e Barcelos, mas só nos dias de feira. Nos outros dias, as mercadorias eram transportadas em carros de bois ou carroças de burros e cavalos. A rapaziada nova fazia-se transportar nas suas bicicletas e anunciava-se com o som da indispensável corneta montada no guiador da sua bicicleta. Lembro-me que havia toques personalizados e verdadeiros artistas com essas cornetas.


Disse que não havia automóveis em Macieira, mas vejo-me obrigado a rectificar a minha afirmação, pois na verdade havia dois automóveis, embora a sua utilização fosse bastante restrita. Este que vêem acima era pertença do Dr.João Alves e valeu-me uns valentes puxões de orelhas e umas bem assentes palmadas nos fundilhos das calças, porque cada vez que tinha oportunidade entretinha-me a esvaziar-lhe os pneus e nunca faltava quem me denunciasse.


O segundo automóvel, de que não lembro nem a marca nem o modelo, mas que era sensivelmente igual à imagem de cima, pertencia ao «Manel do Velho» e era o táxi da nossa terra. Quando chegou o dia de ir a Barcelos fazer o exame da "Quarta Classe" metemos lá dentro quase metade da turma e ... ala que se faz tarde. Os nossos pais fizeram uma vaquinha para pagar o serviço e para nós que nunca tínhamos entrado numa dessas máquinas, foi uma festa.

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